VALIOSO NADA

VALIOSO NADA
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

I

Nada me perturba.
Inquieto, investigo
seu poder de nada ser
e, mesmo assim,
perturbar-me.

II

Só mesmo o que não sou
para preenchê-lo
de nada de um nada
poderoso e essencial e eterno.

……….

Explicando, pelo próprio explicado, que o sou, tanto quanto o é e foram e serão tantos e quantos outros tantos, desde o princípio ao final-consumativo-escatológico, ou seja, do alfa ao ômega, do início ao fim. Tudo como epifania que é, manifestação de Quem não é, continuando este não sendo, como centro-estático-essencial, na manifestação imanente, periférico-dinâmico-acidental, presente sem corpo, pois Se não confunde com o corpo do tudo manifestado. Então, este que ora escreve é sem diferença alguma de quem já foi e de quem será. Privilegia-se, no entanto, pelo agora; pois dos outros (dos que foram) se fala em outrora; e dos outros (dos que deverão ser) se fala em porvir. Quem foi teve o seu agora e quem será pelo agora já passou. Tudo e todos dentro dessa lacuna de tempo entre princípio e fim. Dou-me, então, a investigar e rio de mim, desse mim atrevido, aventureiro. Sempre o somos assim, tanto este mim como o si de quem quer que seja, frutos da epifania divina. Aliás, o próprio aliás é também manifestação dessa epifania que fez tudo existir, inclusive o tal aliás. Por isso, o rio de mim ri-se de si mesmo, sem nenhum enquanto do e para o nada poderoso e essencial e eterno. Então, neste meu agora, como contraponto do nada (pois disto o nada se dispensa por não-ser), consente-se o Eu divino neste meu pobre mim no mesmo nada de inex-istência de D-Eus, nunca por uma vontade desse Eu (pois vítima de más influências de carne, por motivo de uma desobediência), consente-se o dito Eu – vinha dizendo – pela vontade exclusiva de amor de D-, destarte conjugando-se em D- + Eus de D-Eus! Isto tudo dito pouco importa ou nada importa ao nada, já que em nada subjugado a isto tudo ou a tudo isto; tudo isto de uma diversidade que neste agora o meu mim constata e se apaga ou, mesmo não apagado, outrem, em futuro, poderá dizê-lo igualmente, pouco importando isto tudo ou tudo isto ao prevalecente nada; nada em que cabe o Eu, pelo querer exclusivo de D-Eus! Valioso nada, então, preenchido pelo nada do Eu sempre unidade, a despeito de sua residência no meu mim como no si de tantos e de tantos e de tantos outros filhos de mulher. Ver-se, pois, na construção de um agora assim é ser partícipe da faina de silenciosa vontade, em infinito e em eterno amor de D-Eus!, sem necessidade de esforços humanos de Kyrie Eleison e de humanas investigações.

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