TERRA E PARENTELA ACIDENTAIS DE EUS ESSENCIAIS
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
Todo aquele, nascido de mulher, cujo Eu se liberta, por uma vontade divina, de influências de carne e se torna o dito Eu saído (daquelas influências) de terra e de parentela, sem necessidade, pois, de terra, de carne e de sangue, como referenciais de uma raça, de um povo e de um cerimonial religioso, todo aquele – vínhamos dizendo – é um dos que se destacam e se inserem, como um Eu, no incontável número de estrelas de um céu de abraão…, tanto como a divina e incontável sucessão desses Eus compreende, bem precisamente, D-Eus. Paulo, porque vinculado a uma terra e a uma parentela (tanto quanto, aliás, este pobre cronista doriel), das quais compreensivamente ele não se pôde desgarrar, não se lhe há de culpar pela força religiosa do estabelecimento de um santuário, em torno do qual prevalecia o sacrifício de animais, disto traspassando de um levítico proceder a um hebraico modo onde aquele sacrifício passou a um ser de carne chamado Jesus: livros bíblicos Levítico e Epístola aos Hebreus, contrapostos. Ora, essa influência é tão radical e tão severa, que o cerne missionário dele, como bem se pode ver do Capítulo 11 da Epístola aos Romanos, se faz introduzir propriamente pela sua sabida e consabida origem de carne: “Pois eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim…” – Romanos, Capítulo já referido, versículo 1. Desprezo, pois, este tão terreno e parental intróito, para me deliciar no cerne de sua ação missionária, aquela de mostrar que D-Eus não é fechado apenas para judeus, mas propício a eles e aos gentios, estes os tidos como pagãos. Que bela a lição que transmite em força e forma que só pode mesmo ser divina. Por isso, vou abandonar palavras minhas e ficar com as dele: “Eu pergunto: Será que Deus rejeitou o seu povo? De modo algum! Pois eu também sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim… 2. Deus não rejeitou o seu povo que ele, desde sempre, distinguiu e escolheu. Não sabeis o que diz a Escritura na passagem em que Elias interpela Deus contra Israel, dizendo: 3. “Senhor, mataram os teus profetas, demoliram teus altares, e eu fiquei só, e querem tirar-me a vida”. 4. E que resposta lhe dá o oráculo do céu? “Reservei para mim sete mil homens que não dobraram os joelhos diante de Baal”. 5. Assim também agora, em nossos dias, subsiste um “resto”, por livre escolha da graça. 6. Mas, se é pela graça, já não é em razão das obras; do contrário, a graça já não é graça. 7. Daí, o que se conclui? Israel não conseguiu aquilo que está procurando; só os escolhidos é que o conseguiram; os demais se tornaram embotados, 8. como está escrito: “Deus lhes deu um espírito de torpor, olhos que não vejam e ouvidos que não ouçam, até ao dia de hoje”. 9. E Davi diz: “Que sua mesa seja para eles como um laço e uma armadilha, causa de queda e justa retribuição; 10. que seus olhos se escureçam até à cegueira completa. Mantém sempre curvado o dorso deles!” 11. Eu pergunto, pois: porventura eles tropeçaram para cair de vez? Não, de modo algum. O passo em falso que deram serviu para a salvação dos pagãos, e isto, para despertar ciúme neles. 12. Ora, se o passo em falso deles significou riqueza para o mundo, e o seu fracasso, riqueza para os pagãos, quanto mais significará a adesão de todos eles! 13. A vós, vindos do paganismo, eu digo: enquanto eu for apóstolo dos pagãos, honrarei o meu ministério, 14. na esperança de despertar ciúme nos da minha raça e assim salvar alguns deles. 15. Se o afastamento deles foi reconciliação para o mundo, o que não será a sua acolhida? Será uma passagem da morte para a vida! 16. Aliás, se as primícias são santas, a massa toda também é santa; e se a raiz é santa, os ramos também são santos. 17. Se alguns ramos foram cortados e tu, oliveira silvestre, foste enxertada no lugar deles e, assim, te tornaste participante da raiz e da seiva da oliveira cultivada, 18. não te gabes à custa dos ramos cortados. Se, no entanto, cederes à vanglória, toma consciência de que não és tu que sustentas a raiz, mas é a raiz que te sustenta. 19. Dirás: Alguns ramos foram cortados para que eu fosse enxertado. 20. Bem! Esses ramos foram cortados por causa de sua incredulidade, mas tu, é pela fé que estás firme… Portanto, não te ensoberbeças; antes, teme. 21. Pois se Deus não poupou os ramos naturais, nem a ti poupará. 22. Repara na bondade e na severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, bondade, contanto que perseveres nessa bondade; do contrário, também tu serás cortado. 23. E eles, se deixarem de ser incrédulos, serão enxertados: Deus é bastante poderoso para enxertá-los de novo. 24. Pois se tu foste cortado da oliveira silvestre, à qual pertencias por natureza, e se, contrariamente à natureza, foste enxertado na oliveira cultivada, quanto mais eles serão enxertados em sua própria oliveira, à qual pertencem por natureza. 25. Para que não confieis demais em vossa própria sabedoria, irmãos, desejo que conheçais este mistério, a saber: o endurecimento de uma parte de Israel vai durar até que tenha entrado a totalidade dos pagãos. 26. E então todo Israel será salvo, como está escrito: “De Sião virá o libertador; ele removerá as impiedades do meio de Jacó. 27. E esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados”. 28. De fato, quanto ao evangelho, eles são inimigos, para benefício vosso; mas, como povo escolhido, são amados, por causa dos pais. 29. Com efeito, os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. 30. Outrora, vós fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, em consequência da desobediência deles. 31. Agora, são eles que desobedecem, dando ocasião à misericórdia de Deus para convosco, para que, finalmente, eles também alcancem misericórdia. 32. Pois Deus encerrou todos na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos. 33. Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Como são insondáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! 34. De fato, quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 35. Ou quem se antecipou em dar-lhe alguma coisa, de maneira a ter direito a uma retribuição? 36. Na verdade, tudo é dele, por ele e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém!”. Então, “restos” é uma bendita condição, para quem? A missão pauliana abre olhos em espírito, de espírito, por espírito e torna a ação crística para quantos sejam residência de Eus obedientes, segundo a divina vontade: “Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo” – Lucas, Capítulo 14, versículo 26. E assim é que se foge de terra e de parentela. E escolhidos, oliveiras naturais, desobedecem, e os não-escolhidos, ainda, oliveiras silvestres, tornam-se obedientes. Todos pecam, mas a misericórdia é para todos. Os sete mil homens que resistiram ao deus baal, não dobrando os joelhos perante ele, é alegoria perfeita, tanto quanto os “restos”, referidos no citado documento Epistolar. É bem na linha do que dizem ter dito um nazareno: “muitos os chamados e poucos os escolhidos” – Mateus, Capítulo 22, versículo 14. Pois essa escolha assume ideia de um quantitativo para os homens, não para D-Eus. D-Eus escolhe, escolhe o Eu, fazendo-o saído de influência de carne e de amarras parentais. É uma escala de obediência do “não seja feita a minha, mas a tua vontade, Pai” – Lucas, Capítulo 22, versículo 42, como contraponto à escolha. D-Eus é bom! E isto irrita o cão que, com a arma apenas de ferir calcanhares, recebe a paulada na cabeça (Gênesis, Capítulo 3, versículo 15), e termina preso, até a consumação deste século. Seguir, pois, a divina orientação. A carne, sem necessidade de méritos pessoais, que de nada valem mesmo!, nem se pode livrar do finito consciente, ante o inconsciente, no Eu, produzido em querer divino, no aconchego com a Divindade, assistindo o terçar de armas, o Cristo, podendo ferir cabeça, o Mal não passando de apenas poder ferir até os calcanhares. Esses incontáveis como estrela fogem do número certo dos que se não dobram ajoelhados a baal, como assim dos que compreendem o “resto”, no modo de dizer de Paulo Apóstolo. Povo, portanto, há de deixar de lado o significado de quem seja um conglomerado juridicamente organizado, como os judeus ou os índios daqui e de alhures. São eles os “restos”, os alegóricos sete mil homens não ajoelhados diante de baal, numa e noutra dimensão, respectivamente, da medida de medida de homens, pois o somatório de Eus não atende a nenhuma matemática, senão à indimensão de irrealidade de céu de abraão. Todos como indefinidos de uma continuidade infensa a uma origem de terra, de carne, de sangue, porque saídos de terra e de parentela acidentais de Eus essenciais. Logo, no curso de todas as épocas, formadoras de uma História, incluído este presente de um mundo hoje tão melhor conhecido, e explorado, fadado a sua própria historicidade, a sucessão de Eus contínua continua, por certo, assim crê a carne que ora escreve num tablet, contudo, o que resulta no comportamental de nascidos de mulher, em todos os tempos, tem refletido o desmedido apego a terras e a parentelas, inevitavelmente. Neste passo, fomos/somos/seremos os representantes, ora como dominantes, ora como dominados, e os papéis sociais, políticos, econômicos, financeiros de herodes e de pilatos, na órbita civil, não cedem lugar, por uma vontade sua, para que Eus se dispensem de influências de terra e de influências parentais. Nem, igualmente, na órbita religiosa, os anás e os caifaz, os que se pavoneiam de pretensos aprisionadores de D-Eus, ultrapassam os enganosos propósitos de uma terra de mansidão e de uma parentela de desapego. Pois bem, os homens, em instituições…, somos todo aquele, nascido de mulher, cujo Eu se liberta, por uma vontade divina, de influências de carne e se torna o dito Eu saído (daquelas influências) de terra e de parentela, sem necessidade, pois, de terra, de carne e de sangue, como referenciais de uma raça, de um povo e de um cerimonial religioso – este é um dos que se destacam e se inserem, como um Eu, no incontável número de estrelas de um céu de abraão.