SER PESADO INSUSTENTÁVEL,
NÃO-SER DE LEVEZA SUSTENTADA
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
A insustentável leveza do ser, famoso romance que nunca li, porém, a partir do próprio título, insulado de questões que se passam aqui, neste mundo de relações e de relacionamentos, avalio-o, de pronto, como de uma pobreza de espiritualidade, esta que se apresenta com favoráveis ventos de sentido conotativo a gerarem a verdadeira escalada em espírito, de espírito, por espírito, nunca por vontade daquele livro e de seu autor, muito menos ainda da minha pobre vontade. Sim, o nome do livro é como de um tiro certeiro, ao atribuir leveza ao ser, ao tudo do mundo, ao tudo do quanto ex-iste. E tasca de imediato o que lhe é intrínseco: a insustentabilidade. Realmente, e tem que ser real, real de coisa, o ser é mesmo insustentável. É hoje, e amanhã, não. Aliás, o ser conhece bem esses estágios que lhe são caros, essenciais, dentro de uma acidentalidade de dar pena. O hoje, o ontem, o amanhã, compartimentos que são prisões para ele, o ser. E vamos dizê-lo leve, sem dissentir daquele autor, mas como um eufemismo, pois, se nos dermos às considerações de peso, de altura, de largura, de comprimento, de profundidade, não temos como lhe segurar nem assegurar leveza alguma! O ser não é nem pode ser leve. Então, o tal livro faz mesuras e não vai logo direto ao ponto fraco. O ser é pesado. Não pode ser sustentado mesmo, como proclama o autor daquele livro. Dependendo do peso, por exemplo, e de quem o tenta segurar… Mas, tudo dentro de um relativismo e de uma relatividade a que não pode fugir. Pois tudo é medido, pesado e contado. De outro lado, que nem lado pode ser, o ser não é ser, não-ser, que se reveste de… nada, pois nada mesmo representa; não e-xiste e, mesmo assim, ri de peso, de altura, de largura, de comprimento e de profundidade. Eterno (de sempre) e infinito (sem limites), esse não-ser reside no mim de quem aqui ora tecla neste tablet e no si de quem lê ou ouve o que aqui se escreve ou se lê. Por sinal, soube que o si do tal autor, autor a que se chama literato, mui famoso, autor do tal livro, morreu a bio-morte, faz poucos dias. Eis a triste sorte do ser. Quem sabe aquilo que não é nem ele mesmo, inconsciente, o Eu divino nele, em sua carne, ainda agora ri, mesmo não dispondo de nervos e de músculos ordinariamente indispensáveis para o ser rir. Falo de um riso de quem não tem que esboçar esforço físico nenhum, mormente no caso dele que já morreu a morte da desconstituição. Se tivesse morrido, antes, de outra mais importante “morte”, por certo a gargalhada ainda estrondava em sítios celestes de entes sem pesos. E dependendo, como sempre, de vontade que nunca foi nem será dele e de ninguém mais, segue e prossegue inex-istindo a inex-pressão de não-ser que tudo pode sem mesmo ter que saber de prisão meramente humana. Essa prisão é o ser, sempre pesado, nunca de leveza nenhuma, por isso mesmo insustentável, sempre tendente ao acabar-se. Um acabar-se, entretanto, como o da lesma que anda, anda, anda, anda e vai-se finando com o próprio andar. Todavia, o finar-se não é de fim, mas de transformação de ser em não-ser, pois como manifestação, como Epifania de princípio, termina aquele (o ser) vencido por este (o não-ser), fazendo paradisíaco o mundo na mesma dimensão de outrora, contudo numa conformação translúcida de eterno e infinito jardim. É o Getsêmani da obediência que torna o mundo vencido, deixando de ser pesado, aí sim, e passando a leve e a sustentado !!!