SEM MAIS CRUZES

SEM MAIS CRUZES

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Este mundo é uma cruz, resultado de um fazer, o próprio fazer que já é cruz em si mesmo. Foi desígnio, imperscrutável desígnio de quem nunca há de ser quem, nesse indefinido linguajar de homem que o sou, carregando, contudo, o importante do dito quem, neste texto, aqui e agora chamado de Eu; Eu-divino, melhor dizendo. Para o mundo, a cruz foi criada crucificando o todo de uma existência, como que codificada. O fazer, que é cruz, iniciado como luz, veio a resultar o conjunto começado no mineral, seguido para o vegetal e, em escala de menor resistência, para o animal. Este, em toda a sua generalidade, não se pode dispensar, jamais, do vegetal e do mineral. Todo o vivo animal (com o perdão pela redundância) não se dispensa do vegetal, nem se dispensa ainda do continente mineral. Então, no fazer e na cruz remanesce ingrediente libertador, porque, como tudo se fez por amor, seria preciso, realmente, libertar, em primeira linha, para, na sequência, se justificar um peso existencial. O autor deste texto, a propósito, carrega consigo esse peso. Todos carregamos. São de Paulo Apóstolo as palavras que autorizam assim afirmar. Basta ler os versículos 14-25, do Capítulo 7, da Epístola aos Romanos. Conquanto se perceba uma corajosa consciência na referida passagem bíblica, inconscientemente, por sua vez, o Eu, livre das más influências então reconhecidas, encontra, no Cristo, Amado Filho de Deus, o abrigo fundamental para, na consumação do mundo, largar-se do existir crucificante e crucificado. Por isso que Deus-amor-libertador, na cruz de sofredor, elege a condição de libertar como essencial para possibilitar. Sem ela, seríamos sempre cegos condutores de cegos. O autor vem falando de cruz, falando e falando tanto, mas o leitor atento se larga de dois pedaços de madeira de suplícios dos homens, este suplício que é mesmo de quem tem a cegueira e cai na cova, inapelavelmente. Pois, leitor, já o vejo liberto do engano, divorciado de um quadro doloroso de homem, mostrando o lastimável estado de dores impingido a um homem. Retire-se do panorama tantas cruzes materiais e, nos seus lugares, olhos em espirito, de espirito, por espirito, Eus religados a Deus, por meio de Amado Filho, sem mais cruzes, mormente a decorrente da luz de um fazer, a cruz existencial de tantos pesares.