SAINDO DA CONFUSÃO

SAINDO DE CONFUSÃO 

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Batei e abrir-se-vos-á”. O bater e o abrir é de você e para você, montanha de carne, de nervos, de músculos e de ossos? Recolha-se, ah, se todos se recolhessem a uma pobreza de salvação de carne! É como se visse um sinal e por isso a desistência viria normalmente, como a se imbuir de uma verdade: isto jamais pode ser comigo. 

Parece uma coisa louca de louco, mas não é. 

Estou teclando, aqui, provocado por uma frase de efeito. E logo se diz: “foi Ele quem disse assim”, querendo-se dissuadir quem o contrarie, sendo impossível isso, porque ele é quem é a autoridade e por isso pode dizer tudo e fica dito, enfim. E nem foi ele mesmo quem disse assim, mas assim alguém no seu lugar o disse. O que gera confusão é exatamente isso. O homem há de ser respeitado, e tudo quanto disse é para ser acatado, de plano. Tudo porque a linguagem cifrada é para atender a  um propósito. 

Outra: “Buscai e achareis”. Será você quem acha depois de procurar? Você vai estar ali, cheio de querer, dono de uma ânsia de se apropriar, muitas vezes pode ser a conquista de uma estrela. Você a quer só para si. Ou o sol, você não quer ninguém se banhando de sua luz. Deve iluminar só você. 

Ah, que direção tão causadora de confusão. E tem uma destinação assim mesmo. E dizer que são palavras dele. Mas se sabe que não são. Chamam de evangelho, que significa boa nova, de uma escrituração sinótica, três deles, destacando-se no modo de narrar e na destinação. E se diz que um foi direcionado a judeus (Mateus), outro a romanos (Marcos), outro a gentios (Lucas) e outro a cristãos (João).

Você que me lê já se põe meio tonto, meio tonta, “que será que este autor está querendo dizer?”, pois das duas uma: ou se “pede e recebe” e se “busca e se acha” na mísera escala de mundo ou o Eu em mim e em ti, leitor, leitora, querendo Deus, as carnes, os nervos, os músculos e os ossos submissos, habitantes do enorme derredor do Éden, que é o mundo, se demoram em ações como a de bons samaritanos (Lucas, 10, 30-37); se dispõem a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); se determinam a retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); aceitam-se sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); aceitam a ordem e lançam suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); reconhecem-se com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); comportam-se como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)…

Viu, atento leitor, atenta leitora, é melhor refrear-se, que essa conformação de mundo-limite de limitação cada vez mais limitada padece, sendo perigoso um “buscar e um achar” da parte dele, “um pedir e um receber” de sua parte, pois se “há de ser feita vontade de Deus e não a minha nem a sua”, leitor, leitora, toda aquela demonstração humana-divina em carne pela carne só mesmo a divina vontade de Deus a pode tornar propícia.

Então, mais do que convir, convencido de impotência, afasto-me de tolas pretensões que não as posso ter nem tu, leitor, leitora, também, em “pedir para receber”, em “buscar para achar”. Só se for para este mundo. Aquietemo-nos. Deus, amor, bondade, misericórdia “busca e acha”. Deus, amor, bondade, misericórdia “pede e recebe”; para mim, para você, para todos. Ele pede ao Filho e busca, por ele, tudo isso de graça, com graça e pela graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *