PORQUE ASSIM ELE QUER
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
Esta carne, estes músculos, estes nervos, estes ossos,
este conjunto que me forma como homem
(de húmus, humildade)
não o animará, para sempre, o Espírito de Deus;
de 120 anos não passa (Gênesis, 6,3).
É-se feliz na soma dos anos, de infante a ancião,
e sempre é motivo de gáudio
saber-se vencedor de escala de tempo,
dentro desse espaço fixado.
A vida que brota é a mesma qual a de quem,
ancião,
conta tantos e tantos anos de vivo.
Esse vivo é que é diferente,
não a vida que é nele.
O vivo tanto pode ser de idade tenra
como de idade avançada.
A vida não morre senão no fim,
em cenário escatológico.
E o vivo,
esse é que está preso nessa escala de tempo
que não ultrapassa os 120 anos.
Ver-se amadurecido,
como o mim que ora aqui tecla,
ciente e consciente de um crédito,
sim, desde maio, dia 21,
passo a descontar,
deste dia em diante,
a faixa de tempo de 45 anos
a serem vividos,
sabe-se lá durante quantos
naqueles possa continuar vivo,
vivo de mais de setenta e cinco anos!
Como vivo, faço fé que possa gozar
daquele tempo de crédito que me é
como é a todos indistintamente assegurado:
120 anos!
Desse aparente conforto e consolo, todavia,
não digo que vou me dispensar,
pois é preciso ser para não-ser
com outros
que possam intuir,
comigo,
quanto à cruel sentença de Gênesis
que trata da verdade provisória do meu ser.
Vai se achar esta verdade provisória, com certeza,
inundada de Luz,
e o Eu no meu mim
(mim de carne, de músculos, de nervos e de ossos)
como o Eu no teu ti
(também de carne, de músculos, de nervos e de ossos),
prezado leitor, prezadíssima leitora,
com o Espírito de Deus,
vive aquela Luz,
pois, por vontade Dele,
amamos como o Cristo nos ama,
nesse agora de sempre crístico,
de Reino que se não finda,
razão por que… esquece,
larga-te tu,
larguemo-nos nós
de demoradas incursões
em crédito de tempo,
pois eterno e infinito o és,
eternos e infinitos os somos,
em Espírito,
com Deus,
porque assim Ele quer.