Haverá um tempo em que não mais diremos adeus. Um tempo em que as nossas mãos se tornarão desnecessárias, supérfluas. Aliás, não quero me referir aqui apenas às mãos. Vou com o pensamento mais fundo e estendo esta minha assertiva ao nosso corpo em sua inteireza. Sim, porque no tempo a que me refiro este corpo com esta plástica que hoje ostenta já deverá ser coisa de um passado remotíssimo. Encontrar-se-á, portanto, perdido na noite dos muitos anos que passaram. E este corpo encontrará a justificativa da sua inexistência na necessidade que teremos nesse tempo, que será de menos preocupações terrestres e de um maior interesse em se investigar aquilo que o espaço nos apresenta como um enigma. Lamentavelmente, esta é a verdade que o meu espírito vislumbra nesse tempo que ainda se encontra um pouco distante de nós.
Algum tempo, tempo esse também perdido na noite dos distantes anos que passaram, uma inteligência estranha, inteligência essa que não estava numa cabeça tal qual a que hoje temos na parte superior do nosso corpo, atingia a fase que não lhe permitia viver no lugar onde ela se formou. Essa inteligência, é bem certo, também deve ter sido formada por seres biologicamente iguais a nós. E aqui chegando, encontrou uma Terra ocupada por seres que viviam em pleno estado animalesco. E como o mister dessa estranha inteligência era, realmente, semear no espaço agora o perpetuar de si mesma, aqui deixou a sua marca, e desapareceu. Nunca mais voltou. Se voltará, é bem certo que sim. Contudo, não aqueles próprios seres que aqui estiveram. Mas outros. Pois o ser responsável pela existência de inteligência na Terra, no nosso planeta, este desapareceu, e não desapareceu. Foi-se, é verdade, a matriz, aquele que implantou a inteligência neste astro em que vivemos. Sua intenção, eis a verdade, foi alcançada. Aqui esteve e aqui deixou uma semente; semente que por aqui chegou não sabemos certamente o ano, o dia e a hora. Sabemos apenas que chegou. E esta, dentro do passar devorador do tempo, foi ganhando aprimoramento. E hoje é o que é. Homens que raciocinam em termos positivos; homens que não precisam estar com o espinhaço exposto ao sol para alcançar o necessário para subsistir; homens que já fizeram a máquina, que é a sua escrava. A máquina que, na realidade, em muito o ajuda no mister de cada vez mais construir as etapas dessa inteligência em formação; inteligência que mais tarde vai dizer da necessidade de colocar na máquina toda sorte de decisão. Pois é preciso que se firme cada vez mais essa inteligência. É que vendo ela que o lugar onde se encontra não lhe oferece condições para continuar com a sua permanência, que fazer? Ficar para perecer de todo essa semente aqui lançada há tantos anos? Não. Sair será a melhor solução. E para sair é possível, se esta inteligência tiver como arcabouço esse corpo que possuímos? Suportará ele a viagem para nós ainda inimaginável que terá de fazer? Ai é que está. Por isso é que eu vislumbro num futuro um tanto distante, inteligências terrestres que em muito se apresentam diferentes de nós. Será a matéria forte que receberá a inteligência. Matéria forte única capaz de suportar a viagem que está na iminência de ser realizada. Sim. O caos está chegando. Nada é possível fazer por aqui. Tudo é frio. Tudo é gelo. Não há mesmo condições. Que fazer? Ficar? E a inteligência terá, também, de se acabar? Claro que não. Do mesmo modo que ela aqui chegou para se não extinguir, deste mesmo modo haverá ela agora de fazer para que ela não se extinga. Mas já então não será o homem carne e osso quem o fará. A máquina, sim. Ela é o único recurso de que dispõe essa inteligência que inunda o espaço, que domina o espaço e que se vê, aqui acolá, ameaçada de extinguir-se. O astro não mais lhe oferece condições para continuar, então…
Não adianta lamentar. Não adianta também dizer que as minhas palavras são vazias. Que o digam. Apenas estou dizendo o que o bom senso me traz. É necessário que essa inteligência não desapareça. Ela é uma parte de Deus. O homem não permitir que essa inteligência passe do seu corpo para a máquina é consentir que essa parte de Deus pereça. Não. Isto não pode jamais acontecer. É preciso que essa inteligência saia daqui. E ela só pode sair tendo como suporte a máquina, ela, somente ela que é capaz de enfrentar a viagem, a viagem por esse infinito azul. Só assim é que outros homens podem surgir. Outros homens que receberão dessa inteligência o entendimento necessário para que possam esses homens, enquanto condições fornecer o planeta em que eles vivem, cultivar essa inteligência, como nós ainda o estamos fazendo.
Enfim, vejo o homem-carne metamorfoseando-se em máquina; máquina que esse homem-carne vê da sua necessidade, pois só assim é que essa inteligência que eles receberam pode daqui sair e procurar outro lugar onde essa inteligência como semente possa ser lançada. Aqui, aqui ela já não mais pode continuar. Tudo é o fim. Tudo é morte. Tudo é contra a sua permanência, a permanência da inteligência que aqui se instalou e que agora tem que procurar outro lugar. Sim, porque ela não pode perecer. Não é ela uma parte de Deus?