O Profeta concorda, mas o profeta, não
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
Miqueias, Capítulo 7, versículos 7-8: Mas eu me volto para o SENHOR, espero em Deus, meu salvador, e meu Deus me atenderá. Não cantes vitória, minha inimiga, porque quando caio, depois me levanto; mesmo que eu venha a morar nas trevas, o SENHOR é minha luz.
Qual eu, profeta Miqueias? Qual eu? Esse que se confunde nessas energias esgotáveis de tuas carnes, dos teus músculos, dos teus nervos, dos teus ossos? Heim, profeta? Queria, como pobre cronista que tecla aqui neste tablet, queria dizer-te, com letra inicial maiúscula: Profeta. Até mais, com todas as letras maiúsculas: PROFETA. Mas, só depois que te lanço em interrogativa abordagem, por certo pacifica-me a questão, se é que ela tem como subsistir. Bobos de meus olhos e de quem me olha, inclusive o profeta; melhor seria dizer o Profeta ou mesmo PROFETA! Este meu mim de carne, que tecla, certamente, é que se cobre de culpas. Pois, em verdade, o Profeta não seria profeta, para dizer de sua carne assim com tamanha intimidade com o Senhor, precisamente Aquele que tudo pode. Pois o Eu que se volta para Deus não é, não pode ser a tua carne. E se não a é, o pronome possessivo meu, em “meu salvador”, e o pronome possessivo meu em “meu Deus” exibem puro egoísmo, contrastante, pois, com a gratuidade do Salvador e contrastante com a gratuidade de Deus. Acho, portanto, que te salvo, profeta, e te enalteço, Profeta, que presunçosa esta minha carne, logo digo! Pois se ainda falas de queda, como se alguém dando uma topada e caindo, não é nada disso; a queda não é física de um físico; é não sendo a inexpressividade de um Eu, que se livra de influências de carne, por vontade alheia à tua e à minha carne, profeta. Profeta, de maiúscula estatura, livra-se de altura, largura, comprimento, profundidade, cumpre-se em Não-ser de divino querer, de uma vontade dele divino, exclusivamente dele divino, nunca de quem é de carne. Também, profeta, Profeta me torna em luz, onde inimigos de inimizades quaisquer inexistem, ante a eloquência de uma inofendibilidade de quem é inofendível. E, óbvio, essa luz atropela o meu “meu” pronominal e o teu “teu” também pronominal, ainda bem. E o Profeta concorda, mas o profeta, não! Este, coitado, vive a presunção de que uma luz do Senhor seja luz dele. Pode? Podem sim, mas as trevas, como puríssima ilusão. Já a luz lhe pode ser, não, não é em indimensão do Senhor, que tudo pode e quer o Eu + o Crístico na junção com o divino, por graça e jamais por mérito.