MUNDO NADA NOVO: TUDO AMARRA;
CRISTO TUDO NOVO: AMARRA, NENHUMA
(para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
As amarras inegavelmente nos prendem, nos sufocam, socialmente. Somos uns acuados, cobram-se-nos isto e aquilo ou aquilo e isto, numa constância a que nos tornamos e retornamos com uma capacidade de resignação do “é melhor deixar assim mesmo”. Dominantes nem sempre se saem imunes a elas. O ser dominante também as põem em infestação, a depender do tipo de dominância. Os temas religião e religiosidade são delícias para o seu desenvolvimento. Traduzem-se sempre no verbo punir; este que nos amarra a todos, indistintamente: aos que creem, aos que não creem, aos radicais negadores, até. É como um ar que se respira; como sendo o sangue para cada vivo desta vida abundante, lhe é vital e indispensável. A sequência vida e espirito é veneno de vivos cegos de desejos seus; mas a sequência espírito e vida, não. O tal veneno os cega do verdadeiro e essencial Eu, infinito e eterno, cuja inconsciência lhes resta e avulta como um bloqueio inamovível. O autor deste texto já nem sabe mais o que dizer, porque não ele, coitado, mas o Eu imperceptível ao seu si, como assim o Eu imperceptível a Paulo. Paulo? Qual Paulo? Na verdade, quero dizer de um Paulo que antes se chamava Saulo, o mesmo, de carne, de músculos, de nervos, de ossos, mas tanto quanto com um como quanto com outro dos tais nomes apenas e tão somente refletindo-se num espelho de uma visão confusa, conscientes, coitados, assim como consciente é este reles autor aqui teclando neste tablet ; eles, uma carne de vivo da vida de uma época, este pobre escritor uma carne de vivo da vida desta época de vivos ainda respirando; eles não mais! Pois, Paulo, sou mais do que tu, porque posso falar, evidentemente menos em relação a ti, posso falar – vinha dizendo – de uma inegável importância que tu não mais podes, pois vivo ainda da abundante vida para mim, para todos os ainda vivos, até que nos consuma o ser no fim dos tempos, para o meu mim, para o teu ti, para o ti de todos, exceção apenas de um, não preciso dizer Quem… Mas, o que são aquelas tais amarras? São elas de dois tipos: as de parentela e as de terra, ou, numa exata e melhor e mais correta ordem, de terra e de parentela (Gênesis, 12, 1). E isso faz logo lembrar um bíblico personagem, Abrão, contaminado com a terra onde nasceu e com o sangue de uma parentela. Abrão, que saiu de ambas; saiu para uma terra de promessa, mas terra só de nome, sem sê-la, chamada de Canaã, como terra de promissão, que mana leite e mel, denominação e qualificações essas duma valia de nada, senão para a terra propriamente como para uma inventada parentela, tal como inventada, também, é a nominada terra. Também o sair tanto de uma como de outra ilude a todos, subjugados à consciência de uma ilusão, como se tenha mudado de um lugar para outro, ou seja, de uma cidade distante, Ur, para o lugar de chegada, Canaã. Na verdade, nem terra, nem parentela, nem lugar e lugares, nem abrão, nem abraãos, nem até mesmo saída ou saídas, nem entrada ou entradas. Só o Eu, central-estático-essencial, do Eus de D-Eus!, melhor dizer D-Eus de D- + Eus como centrais-estáticos-essenciais, inex-istentes. Abrão, abraãos, lugar, lugares, Ur, Canaã, leite e mel, todos estes periféricos-dinâmicos-acidentais, ex-istentes, ilhas de amarras e eficazes produtoras delas. Os abrãos, os abraãos, os saídos, os entrados, as Urs, as Canaãs, os leites e os méis neste mundo pertencem à dimensão do mim, como pertenceram àqueles seres e lugares e qualificações de dimensão de homem, de terra, de lugar, de qualificações. Tudo isso sendo continente onde repousa, sem sentido nenhum de repousar, pois isto é de dimensão humana, tudo isso sendo continente onde repousa – vínhamos teclando – o indimensionado Eu em Eus de D-Eus! Portanto, a missão pauliana, internacionalizando o cristianismo, como visto em Romanos, 11, entre judeus que ele o tinha sido e permanecia sendo, porque um nascido na província de Tarso e, ao mesmo tempo, considerado cidadão romano, portanto de Saulo para Paulo, todos submissos, como submissos os gentios àquelas amarras, as centrais delas como sendo a terra e a parentela, fez precisamente de Paulo o sumo-amarrado que precisou de uma tentativa de alinhamento romano, romano do qual se tornou cidadão, e essa necessidade estava dentro de sua casa, Pedro e todo o apostolado não se desgarrava de outra amarra, a de que Deus exigiu e o prepúcio dos machos humanos deveria ser extirpado, num cerimonial a que se deu o nome de circuncisão, cerimonial, portanto, que o judeu Saulo acolhia, mas o seu Paulo romano, portanto gentio, já o desviava do prepúcio para o coração. Daí o confronto à guisa de melhor elucidação: a oliveira natural – o judeu – e a oliveira silvestre – o gentio -, como enfatizado no Capítulo 11 de Romanos. É de fundamental importância lê-lo. A todo custo, Paulo não se larga de Saulo e a terra e a parentela judias encontram uma defesa de raiz, sempre abrindo uma porta reconfortante para um retorno deles, já que raiz jamais deixarão de ser. Numa amplitude internacional de acolhimento de gentios, sem desprezar a raiz de judeu, carrega ele o anseio de que todos enfim durmam a tranquilidade de uma circuncisão do coração, como enfim resultou absorvido, como se a doutrina amarrada advinda de um judeu, cujo Eu do Eus em D-Eus, no sempre do eterno e no sem-fim do infinito, em vontade de D-, não sobrevivesse, desamarrada, a perda de terra e de parentela. O Eu escolhido, por meio necessariamente do Unigênito Filho de D-, em batalha, no céu, como Miguel, combateu e venceu o Mal; portanto, em espirito, D- com anjos, arcanjos, querubins, serafins, sem amarras. O anjo Lúcifer, assistindo junto a D-, com o esplendor de sua beleza levou-o a fazer comércio de si mesmo, na pretensão de ser igual a D-. E assim fez resultar aquela guerra da qual ele saiu perdedor. Ah, que magnífica a epifania de D-, por palavras de um fazer a luz (fiat lux). Foi o princípio, até tido e dito como benigno, e o era, pois tudo quanto criado era bom. Tudo engano…, mas só depois de um grandioso gesto de Amor-essência, pelo qual D- precipitou o anjo perdedor da guerra, Lúcifer, a terra do mundo criado e que era tudo tão bom. A luz do fiat lux não propriamente, mas o mundo dela decorrente tornou-se amarra, dela provindo o mal do mundo enfim. Ele mundo terminou, pois, em inglória consentida, periférica-dinâmica-acidental, bendita, de início, porém, com a precipitação de Lúcifer, para ela, maldita toda ela se tornou (parte final do versículo 19, 5, 1ª Epístola de João), não por conta da referida precipitação em si mesma, mas pelo enigmático mal em Lúcifer precipitado, sob a forma de serpente-falante, produzindo o engano nos habitantes do jardim primevo, o jardim do Éden. Foi preciso, então, que o Filho Unigênito de D-, representado, no céu, pelo arcanjo Miguel, vencedor da guerra contra Lúcifer, no enorme derredor do jardim primevo, que é a terra do mundo criado, ficasse com arma que fere cabeça, enquanto Lúcifer, agora Satanás, ficasse com arma que somente pode ferir até o calcanhar (Gênesis, 3, 15); e, noutro jardim, o de Getsêmani, por meio daquele Filho, o Eu em Eus de D-, na carne de um jovem nazareno, vencesse, como venceu, o aludido derredor, como se infere do tão conhecido epílogo “tudo está consumado”. Portanto, diferente do que diz o Gênesis, na amarra constante de uma sua passagem, retromencionada, desamarra, aparentemente, por sua vez, o Evangelho: “Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs (sair de parentela), e ainda também a sua própria vida (sair de terra), não pode ser meu discípulo” – Lucas, 14, 26; só assim, pois, saindo-se de terra, e só assim saindo-se de parentela, sem mais amarras…, sem mais amarras, sem mais amarras…??? Ilusão, ilusão, ilusão, puríssima ilusão deste epílogo evangélico, porque ele, no sentido posto, condiciona a uma prisão e a uma amarra; a uma prisão e a uma amarra a pai, a mãe, a mulher, a filhos, a irmãos, a irmãs, portanto, a uma parentela, como condiciona, igualmente, a uma prisão e a uma amarra à vida que brota da terra, esta efetivamente outra amarra, exigindo o inexigível ao homem, enquanto carne e nervos e músculos e ossos. Pois D- e o seu Filho Unigênito não prendem nem amarram a ninguém; eles, sim, é que aborrecem, por suas divinas vontades, aquelas prisões e aquelas amarras no Eu em meu mim e no Eu em quem quer que seja. Sendo assim, Deus querendo, o Eu, no homem e na mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, aborrece a pai e a mãe e a mulher e a filhos e a irmãos e a irmãs, como assim aborrece o mesmo Eu a própria vida, tornando-se, inconscientemente, liberto de prisões e de amarras, e isto é preliminar necessária para que, também Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, praticar ações como a do bom samaritano (Lucas, 10, 30-37); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, por suas mãos, possam, santamente, se dispor a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, determinar-se a retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, agir como os que se aceitam sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, aceitar a ordem e lançar suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, atuar como os que, de fugitivos, aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, agir como os que não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, se quedar como os que não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que se reconhecem com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que se comportam como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que, ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, possam, santamente, encarnar os que consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)… Então, mundo nada novo: tudo amarra; D- + Eus em Cristo tudo novo: amarra, nenhuma.