MEU ANIMAL E O (MEU?) EU
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
Parados ou andando ou correndo ou deitado ou de cabeça para baixo, do jeito que for em que se estiver, somos os humanos, o conjunto de sentidos e de órgãos, que representam um lado animal que o temos, e não podemos negar. Não há ninguém, nascido de mulher, que se possa dispensar dessa condição animal, com órgãos, com sangue que circula em e por todo o corpo, com um sistema de respiração, com um sistema mastigatório e digestivo, começando, por óbvio, com a mastigação e terminando com a expelição de excrementos e urina, contudo, nesse processo todo, o mais importante é a energia que esse organismo termina assimilando e que o mantém vivo, no ciclo de toda uma vida que se vive. Veja-se que ninguém escapa dessa realidade. Ninguém. Pode ser o mais limpo, o mais asseado, aquela que, tão bela e altamente perfumada, desfila em passarelas, aqueles que, paletós das melhores marcas, se apresentam em salas, em auditórios, em fóruns, um trabalho, um corre-corre, mas a realidade animal está lá. Todos, sem exceção, carregam consigo as ações e reações de um processo que há de funcionar de modo tal, que conduza a um viver bem, sem dores disso ou daquilo. Aqui, acolá, há situações em que escapam os gases mal cheirosos, como a fazer lembrar que não adianta orgulhar-nos tanto, porque, dentro, se processa aquele alimento de que se alimenta, podendo ser coisa de rico ou de pobre, mas todos se transformam em líquido e em massa que são enfim expelidos. Então, os plebeus ou os ricos, os de cultura apurada, ou não, os que exercem cargos relevantes, ou não, são igualmente dessa realidade que fede, internamente, no que tem de ser expelido, obviamente. Inclusive os que se tornaram santos, ou seja, separados, por conta da bondade de Deus, que, por graça, permitiu que eles nascessem de novo. Mas, mesmo nascidos de novo, continuaram “mortos” da “morte” das ilusões do mundo, ainda que permanecendo vivos, à espera de uma bio-morte que termina vindo, inevitavelmente, para, aí sim, tudo feder. Há a vitória sobre a morte que tanto se propala no mundo religioso; esta vitória não é sobre a tal bio-morte. A vitória é a de uma “morte” que se “morre”, por vontade de Deus, por sua graça, “morte” que se “morre” – vínhamos dizendo – das ilusões do mundo. Esses são os santos, podendo sua separação se dar, até mesmo, pelo som da última trombeta, desde que a separação, a santidade seja de uma plenitude tal, que, de açoites, de espinhos de uma coroa de espinhos e de uma prisão a uma cruz não se submetam mais os sentidos dolorosos que disso podem advir, naturalmente. Quero, então, ressaltar um quadro animal que se vive mesmo em sanidade, separado, em santidade e que nele se é mergulhado inexoravelmente, ainda que sem se dar conta de sua própria natureza, que é provisória, contudo, pelo certo, é mais salutar, nunca se vive, em constância, mergulhando-se nessa realidade, vamos aqui chamar de cruel? Melhor é como que ignorá-la. Quer-se mesmo é viver a vida e nunca estar-se ligando as possibilidades quanto a ser ruim isso ou aquilo. Nesse sentido, o cuidado é de tamanho tal, que o homem alcançou uma rede de medidas que visa mantê-lo são, em sua realidade animal, para o seu bem e de todas os demais que o rodeiam. Essa realidade até aqui descrita, realidade de carne, de músculos, de nervos, de ossos, de sentidos, é ela a que se vê refletida e comprometida em batismos, de quaisquer espécies, seja por aspersão ou por imersão, ao natural, em águas correntes, ou em templos ditos religiosos, em tanques ou pias chamadas batismais. Porque o batismo de fogo nada tem a ver com o batismo do que é animal, senão reflexivamente. É quando, nascendo-se de novo, a vontade de Deus assim quer, a partir da enorme satisfação do “este é o meu amado filho em quem me comprazo; escutai-o”. Esse consentir divino conduz ao Getsêmani do “Não seja feita a minha vontade, Pai, mas a tua vontade”. Pois bem, nem mesmo a graça que conduz, por vontade divina, a uma determinação desta, pode o animal contrariar, mesmo que batizado. Tanto que Maria disse sim, mesmo podendo dizer não, um não, entretanto, que seria em vão, porque o sim da graça é de inevitável eclosão. Pois o não de Jonas nos mostra que foi preciso o incompreensível de um vômito de uma baleia para que ele terminasse cumprindo aquilo que lhe foi uma determinação de Deus. E Moisés também não recuou, apenas achou-se pequeno, procurando saber quem mandava que ele agisse de modo a tirar o seu povo do cativeiro dos egípcios. E lhe foi dito, ante a pergunta “quem te mandou fazer?”, bastaria dizer: “Eu sou”, assim ele mandou e manda fazer. Então, tudo isso se dá ao nível do animal, porém, até contra a sua vontade ou mesmo atitude de impacto, como assim foi com Sarai, alvo de graça que encarou com risadas de quem era uma carne de animal, que tem o que fede, por dentro, contudo, pode, como pôde, ser alvo de uma graça, como já dito, a de ter filho na velhice, o filho da promessa, Isaque. Afinal, quem saiu de sua terra e de sua parentela, Abrão e que, em razão de tais saídas, se tornou Abraão, mesmo neste papel de agraciado pela ordem divina, nunca deixou de ser animal. E aqui não se fala de separado, de santo, ele é sim um patriarca, da sociedade patriarcal dos Judeus. Pois bem, vive-se, neste mundo de encarnação e de encarnados,
inevitavelmente, porque, como Deus, o Natal se manifesta, cada um tem o seu, individualmente, como o Natal de Adão e de Eva, privilegiados de um jardim, só que, com iniquidade de desobediência, agora, todos e cada um nascem, têm o seu Natal no imenso derredor do primeiro jardim, derredor esse que é o mundo, em sua imensidade. Vem, então, por vontade de Deus, dentre muitos chamados e poucos escolhidos, pela vontade exclusiva de Deus, pois, quando ele quer, a vontade humana se destrói, se anula, vive uma decepção de vida, porque é como não tivesse condição de viver o e no derredor do jardim primevo, como Caim, que ficou com um sinal na sua testa, o sinal desse separado se firma e se afirma no poder divino de realizar o irrealizável. Todos esses Adãos e todas essas Evas, o e a do jardim primevo, como os e as do imenso derredor do tal jardim, como, enfim, os e as do novel jardim, são tópicos e típicos, mas do ponto de vista da carne, dos músculos, dos nervos, dos ossos, porém, esses do e essas do segundo jardim, se são tópicos e típicos, deixam de sê-los e de sê-las pelo novo nascimento, mantendo o ser em eternidade e infinitude que nunca deixaram de ser, senão não seriam eternos e infinitos, sempre. Como, aliás, disse Jesus: “Antes que Abraão fosse, eu sou”, esses habitantes do novel jardim de Getsêmani não se há de dizer que nunca foram ou que ainda podem ser ou como ainda poderão ser, porque o animal, até a consumação do século, vai prosseguindo e se finando, nesses compartimentos temporais, mas o eterno e o infinito, por o serem assim, nunca deixam, deixarão ou deixariam de ser, sob pena de se negar o que inegável o é ou inegáveis os são ou mais propriamente não são pela complacência de uma extensão e de um fim, respectivamente. Então, os santos, não digo de todos os tempos, mas do sempre, eternos, infinitos, se formos buscá-los, há uma infinidade deles, batistas, joãos,madalenas, filipes, estêvãos, paulos, pedros, jesuses, davis, salomões, marias, lucases, mateuses, marcoses, agostinhos, thomases de aquinos, joões paulos segundos, dons hélderes câmaras, teresas de calcutares, marias de nazaré, das conceições, das dores, mães dos homens, imaculadas, terezinhas de jesuses, sãos josés operários, sãos josés dos egitos, sãos sebastiões, sãos josés de anchietas, sãos franciscos, santas claras, padres josés coutinhos, todos, todos, todos, sem exceção, inclusive os que a minha incapacidade de memória de cronista os reteve esquecidos, não lembrados, com certeza florescem nesse novel jardim, o de Getsêmani, jardim que os olhos de carne, inclusive os de seus próprios habitantes, não podem nem hão de vê-lo, jamais. “Veem-no” os olhos em espírito, de espirito, por espirito dos que, seus habitantes, acham-se em indimensão de tempo e de lugar, sendo em eternidade e infinitude, antes que Abrão tivesse sido, pois o Abraão, esse é o que sai de terra e de parentela, porque é sempre eterno e infinito. É quando um quando da carne de dorieis sai de sua terra e de sua parentela, sem receios de críticas, se assume em posse do nascimento divino, em espírito, de espirito, por espirito, para o registro, aqui, nessa sopa de letras e de letrinhas, por onde não deve haver onde nem por onde, a indimensão do céu, sim, o pondo, nem tanto, o tornando indimensionado na dimensão de eterno e de infinito, como e com em todos os santos citados e os ainda por citar, também. Mas não se duvide, esses dorieis são carne e fedem no que têm de feder, até que desponte a bio-morte e, depois, até a consumação do século, para ela carne morta, nunca para o nascido de novo, pela graça, em espírito de espirito por espirito, o eu nesse pobre mortal de carne dos dorieis. Assim, como começamos dizendo, “Parados ou andando ou correndo ou deitado ou de cabeça para baixo, do jeito que for em que se estiver, somos os humanos, o conjunto de sentidos e de órgãos, que representam um lado animal que o temos, e não podemos negar. Não há ninguém, nascido de mulher, que se possa dispensar dessa condição animal, com órgãos, com sangue que circula em e por todo o corpo, com um sistema de respiração, com um sistema mastigatório e digestivo, começando, por óbvio, com a mastigação e terminando com a expelição de excrementos e urina, contudo, nesse processo todo, o mais importante é a energia que esse organismo termina assimilando e que o mantém vivo, no ciclo de toda uma vida que se vive. Veja-se que ninguém escapa dessa realidade. Ninguém. Pode ser o mais limpo, o mais asseado, aquela que, tão bela e altamente perfumada, desfila em passarelas, aqueles que, paletós das melhores marcas, se apresentam em salas, em auditórios, em fóruns, um trabalho, um corre-corre, mas a realidade animal está lá. Todos, sem exceção, carregam consigo as ações e reações de um processo que há de funcionar de modo tal, que conduza a um viver bem, sem dores disso ou daquilo. Aqui, acolá, há situações em que escapam os gases mal cheirosos, como a fazer lembrar que não adianta orgulhar-nos tanto, porque, dentro, se processa aquele alimento de que se alimenta, podendo ser coisa de rico ou de pobre, mas todos se transformam em liquido e em massa que são enfim expelidos. Então, os plebeus ou os ricos, os de cultura apurada, ou não, os que exercem cargos relevantes, ou não, são igualmente ambulantes dessa realidade que fede, internamente, no que tem de ser expelido. Inclusive os que se tornaram santos, ou seja, separados, por conta da bondade de Deus, que, por graça, permitiu que eles nascessem de novo. Mas, mesmo nascidos de novo, continuaram “mortos” da “morte” das ilusões do mundo, ainda que permanecendo vivos, à espera de uma bio-morte que termina vindo, inevitavelmente. Há a vitória sobre a morte que tanto se propala no mundo religioso; esta vitória não é sobre a tal bio-morte. A vitória é a de uma “morte” que se “morre”, por vontade de Deus, por sua graça, “morte” que se “morre” – vínhamos dizendo – das ilusões do mundo. Esses são os santos, podendo sua separação se dar, até mesmo, pelo som da última trombeta, desde que a separação, a santidade seja de uma plenitude tal, que, de açoites, de espinhos de uma coroa de espinhos e de uma prisão a uma cruz não se submetam mais os sentidos dolorosos que disso podem advir, naturalmente”. Ufa, fomos longe na repetição. Vamos parar por aqui, nesse animal que fede e que tecla, e que federá inteiramente no fim e ao cabo, mas cabe no cabo de um querer divino, que possa fazer o eu de novo nascido, desperto, um eu que jamais poderá ser meu nem de ninguém enquanto animal.