GAYS, NÃO-GAYS, HARMONIA,
ASSIM NA TERRA, COMO NO CÉU
(Para iniciados e iniciandos e também para profanos iniciados e iniciandos)
I – VIVER A VIDA COMO SE QUER
A homoafetividade seria, sem dúvida, consciente ou inconscientemente, hostil à perpetuação da espécie humana? E isto que aqui se acaba de questionar seria uma conduta homofóbica por parte do cronista, ou não? Se seria, ressalto que abomino qualquer tipo de discriminação e, por isso, como cidadão consciente de direitos e de obrigações, num Estado Democrático de Direito em que vivo, defendo que sociedades conjugais homoafetivas, masculinas e femininas, ganhem o devido respeito e consideração, segundo uma linha de compreensão e de amor cristãos e, sobretudo, de afirmação de um direito fundamental, assim como escrito na nossa Constituição e devidamente aceitável como natural na mente das pessoas e no modo como eticamente se devam comportar. Visualizaria, apenas, um problema, que não seria de hoje, mas poderia ser de um amanhã não tanto tão longe. Na atualidade, tem-se, como regra, a existência de sociedades conjugais heteroafetivas, isto a partir de um quantitativo considerado de casais, bem a maior. Então, as exceções seriam as sociedades conjugais homoafetivas, bem a menor. Mas, imaginemos um cenário outro, onde esse quantitativo mudasse radicalmente, de modo a podermos contar com uma maioria de sociedades conjugais homoafetivas. Aí é onde entraria a máxima perversa e hostil à perpetuação da espécie humana, como questionada acima? A realidade social, então transmudada, com certeza, ainda que inconscientemente, poderia conduzir à tal hostilidade? Por quê? Ora, a capacidade de gerar filhos naturais se reserva tão somente e tem decorrência de relações heterossexuais, ou, em laboratório, com a inseminação de um óvulo com um espermatozóide, disto não cabendo discordância alguma. Ou há quem possa discordar? Pois com a realidade de casais, em sociedades homoafetivas, buscando, mediante processos estranhos ao seu relacionamento sexual de opção, a geração e posterior adoção de novo representante de sua espécie, a perpetuação da mesma espécie resultará sempre positiva. Contudo, considerando uma postura radical, radicalíssima radical, em totalidade de casais em sociedades conjugais homoafetivas, cujos membros não aceitem a busca de geração de ser humano, aí, sim, é que entraríamos no grandioso problema da redução da humanidade, passando-se à realidade de sociedades cada vez mais “diminuindas”, permitam-me o neologismo. Seria, então, a raça humana sob a ameaça de extinção? Oxalá a vontade dos homens não permita que tal aconteça, quando instalada a realidade nada impossível de termos sociedades homoafetivas, como regra, e, por outro lado, sociedades conjugais heteroafetivas, como exceções. Enquanto isso, deixemos que tudo transcorra num clima de concórdia e de consideração e de muito respeito, porque o querer de cada ser humano há de ser respeitado, não sendo a possibilidade de um problema em futuro, como o ora meramente presumido, motivo para se discriminar quem quer que seja. Pois viver a vida como se quer é o que importa, desde que não-tangenciada nenhuma senda de crime, evidentemente. Então, você aí, heterossexual ou homossexual, travestido(a) ou não, não me puna por conta daquele intrigante e condicionado questionamento. Culpe, antes, a infalibilidade do raciocínio lógico. E se um tal questionamento bole com quem quer que seja, eu, cronista, é que devo privá-los dos medos dele decorrentes, se os houver; por certo, vivamos as convivências sadias, sem grilos a perturbar ninguém, para tanto devendo eu retirá-lo (o questionamento) da sala da melhor das tais convivências.
II – PERIGOSA ABORDAGEM
Nos dias que correm, o tema envolvendo o mundo dos gays reclama o cuidado necessário, porque não pode ser nem parecer que se esteja promovendo alguma discriminação. Aliás, é impossível escapar de sua forma de vitimar-se, sempre, pois não lhes acena favorável a berlinda, qualquer que seja a circunstância de sua manifestação. Aceitam-se eles, mesmo acentuadamente já fora do armário (expressão popular), no melhor conforto de serem vistos, mas com a preferência mais pelo tabu; melhor é que se não fale nada sobre isso. E assim a penetração vai indo adiante, num crescendo a olhos vistos. Talvez por conta desse atual estágio, porto de abrigo de gays, o casamento, algo recente, cujo assentimento vai invadindo espaços em todos os momentos e em todos os recantos sociais, mas acontece ainda como uma certa apatia e assim parece que vão achando melhor, mais confortável, não serem alvos de abordagem. Raros são os que saem de verdade do armário e, mesmo assim, os que lhes estão em derredor ficam pouco à vontade, por si, e por eles, sobretudo, porque nós outros é que ficamos numa apreensão de que possamos estar incomodando-os. É uma delicada situação. É como ser sem querer que o ser receba vistos de comentários. Quer-se que o ser e o sejam impactem, de certa forma, como a ponta do orgulho de serem o que são, mas não é para comentar; só para olhar. E o crescendo em direção a um número cada vez maior de sociedades conjugais homoafetivas vai acelerando, vai acelerando, vai acelerando. No texto anterior, fixamo-nos na preocupação parecida como absurda, a de poderem, um dia, engrossar o número dos que não aceitam filiação, de espécie alguma, e, por isso, se disse que o homossexualismo seria hostil à perpetuação da espécie humana. Sim, como uma decorrência da lógica. Longe dessa preocupação, até porque o evoluindo, o evoluindo, o evoluindo de que se falou linhas atrás acelera-se silenciosamente consoante o melhor gosto deles, mesmo assim é preciso encará-los na linha de uma normalidade, por mais que, no real, pareçam anormais. E que, no estágio futuro de um normal, lhes não acompanhem a ideia perversa e avessa à preservação da espécie que são eles mesmos, ou melhor, nós mesmos. Então, que se povoem de gays no tamanho e permissividade deles mesmos, enquanto os não-gays seguem a impaciência da demora, que não é culpa deles. Querer o contrário seria admiti-los numa empresa hercúlea para a qual eles não contam, pois, se contam, é mesmo com a delicadeza de seus gestos e atitudes, quer másculas, quer não.
III – FUNDO REAL
Nada há a se recriminar ou o que se recriminar, porque o equilíbrio há de vir e permanecer em lados, pois dificuldades tantas não são apenas de uns, hoje ainda poucos, e de outros tantos com tantos outros tantos em direção aos novos poucos. Este reverso já agora sente espécie de desconforto, mas assim o sente e deve deixar de senti-lo, só mesmo com o império do equilíbrio, consubstanciado na leveza do ser gays acolhido pelo também acolhido natural dos que se não são ou se não consideram, julgarem-se ambos do ser melhor de um em confronto com outro. Tudo, em verdade, se escraviza a linha de conscientização de uma origem onde se diz “macho e fêmea os criou”, ou seja, não é que prevalecente seja a ideia e posterior concretização de um ato de criar com palavra, bem se sabe da parte de quem. O prevalecente é mesmo o conteúdo macho e fêmea, nele. Essa ambivalência é de origem e se o equilíbrio há de ser buscado no clima de respeito e de muita consideração entre gays e não-gays, em sentido social, já no que toca à perpetuação da espécie o desequilíbrio, nos encontros, se arvora indispensável. É preciso que uma porção macho se desequilibre frente ao seu ser feminino, e vice-versa, somente assim abrindo lugar à concepção, nos encontros. Nenhum encontro entre equilíbrios pode gerar. Nem por isso, cabe desprezá-los, porque a origem assim fez, podendo assaz efetivar-se, hoje, assim e, amanhã, assado. É inevitável. Uma lei como de pedra, portanto imutável, não degenera jamais, como degenerados nunca serão os que tenham opção contrária, porque esta repousa em sua própria origem. O ser homem não se dispensa do seu próprio ser mulher, e vice-versa. Precisa-se, porém, pela lei de pedra, para fins de recriação, que o encontro entre dois continentes aflore o macho, de um lado, e a fêmea, de outro. Contudo, sem prejuízos, mas apenas com evolutiva direção de vontade própria e consentida pela origem, outra também lei, lei de cerimônia, necessariamente socorrida pelo império do amor, dê lugar ao equilíbrio nos encontros em formações sociais conjugais aos olhos sociais, ou não, o que não transparece contramão alguma, mas fundo de origem incontestável. O que precisa é demover o lado social de que não podem, nem gays, nem não-gays viverem uma sociedade de uns julgando-se poderem ser uns e outros, não.
IV – O SAGRADO E O PROFANO
Nem porque transpareça, à primeira vista, algo promíscuo, por isso mesmo vetado por Paulo, in 1ª Coríntios, Capítulo 6, versículos 9 e 10, dê-se-lhe, porém, o benefício da ânsia religiosa perversa, o que faz qualquer um, quem quer que o seja, ante uma tal abordagem, de visão turva, a ponto de negar a origem, esta que não é submissa a negação nenhuma. O anátema, porém, está escrito lá, os incautos vitimados de sua índole perversa; não temos como fugir desse sentido pré-ordenado por um sistema. Alinhado a Paulo, para consentir em profano sem perdão, logo é sentir a necessidade de nunca esconder a origem, pois, nesta, presente se faz tanto o sagrado como o profano; aquele com residência fixa na lei de pedra, este na lei de cerimônia, à qual se vergam os processos culturais, no curso dos tempos, nos modos de usos, na teia dos costumes. O sagrado é imutável, é a vontade indestrutível, de Deus. O profano é hoje e pode deixar de ser amanhã, não porque se transforme em sagrado. É no sagrado onde o desequilíbrio nos encontros não se dispensa de um útero, onde se deliciam um óvulo com um espermatozóide, necessariamente. O equilíbrio no profano não é condenável, porque ele é de origem; há, no homem e na mulher, a respectiva porção macho e a respectiva porção de fêmea. Nos encontros, sagrados e, portanto, férteis, necessariamente concorrem uma porção macho, de um, e uma porção fêmea, de outra, com desequilíbrio acentuado de um, o homem, e com o desequilíbrio acentuado de outra, a mulher. Isto é sagrado, de pedra, e não há processo cultural que o possa alterar. E, profano, portanto, e infértil é o desencontro no encontro de porção macho, de um, com a idêntica porção macho, de outro, e vice-versa, tratando-se isto de um processo cultural, que se rege pela lei cerimonial, não custa voltar a dizê-lo. Mesmo assim sendo profano, a religiosa e condenável posição de Paulo, alhures referida, alivia-lhe e põe a salvo o próprio autor da origem, porque, no amor de sua essência, torna Paulo propriamente alvo de uma misericórdia especial reservada a santos. Por isso ele não há de ser visto com olhos de carne, mas, em espírito, de espírito, por espírito, infunde, nos processos culturais, quaisquer que sejam, pela salvaguarda do amor, a compreensão aos que se vitimizam de encontros inférteis, perante a lei de pedra, contudo férteis em termos de acolhimento a novos seres, pela via da adoção, o amor cristalizado – do Cristo.
V – HARMONIA
Não há intervenção humana, nem em termos religiosos, nem civis, que tenha o condão de interferir na lei moral de Deus (os Dez Mandamentos, livro de Êxodo, Capítulo 20, versículos 1 a 17), mas na lei cerimonial, sim (vide versículos 24, 25 e 26 do Capítulo 31 do livro de Deuteronômio). Esta, como se sabe, foi escrita em livro, por Moisés, enquanto aquela foi escrita pelo dedo de Deus, em pedra e é, portanto, imutável. Por isso, o aspecto cerimonial de uma ideologia está pari passu com a lei cerimonial, escrita pelo homem, sendo, por isso, modificável, no curso do tempo, justamente por ser profanizável, em escala crescente, como assim, num sentido contrário, em escala decrescente, a um estágio de menor grau de profanização. Com a lei moral, por ter sido escrita na pedra, isso não se dá. Então, se o homem e a mulher ultrapassam a carne e nela e por ela, em espírito, vivem a tranquilidade da paz e da harmonia numa convivência ainda que profana, dir-se-á que eles, necessariamente, são nascidos de novo, ou seja, são alvos dos efeitos inabaláveis e imutáveis do espírito, pois alcançaram a possibilidade de verem o invisível e de acreditarem no impossível e, nestas condições, passaram a superar choques conviviais, como são exemplos os que se flagram, constantemente, entre negros e brancos, entre crentes e ateus, entre nacionais e estrangeiros, entre ricos e pobres, entre uniões homo ou heteroafetivas, estas últimas, por sinal, como sendo a questão que nos trouxe até aqui neste modesto texto de interessante contexto. Aliás, quanto a estas, precisamente, a criação de Deus fez ex-istir o homem e foi de modo tal que ele como homem e como imagem de Deus se apresentassem como macho e como fêmea (vide versículo 27, parte final, do Capítulo 1 do livro de Gênesis), ressaltando, destarte, o tanto de uma porção macho e o tanto de uma porção fêmea, tudo isso em relação ao homem como gênero, gênero do qual viria resultar, depois, a espécie inclinada a procriar, na mescla necessária de uma porção macho com uma porção fêmea. Este aspecto criacional, se nunca pode ser alterado para o fim procriador, encontra na lei de cerimônia, nalguns casos, a atração em polos iguais que a lei cerimonial escrita pelo homem Moisés, por sua vez, encontra no amor de Jesus, unicamente, o caminho para um aperfeiçoamento dessa lei. E, ainda, como diz o Gênesis, depois de criado o homem, sendo a mulher parte deste, de uma costela, no versículo 24 do Capítulo 2 do livro de Gênesis, tendo dito “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne“, ainda assim o amor de Jesus não encontra motivo de condenação, quando a atração se desvia para pólos não-procriadores. É que aquele homem criado, como macho e como fêmea, posto num jardim de delícia, o Éden, feito de barro, sendo alma vivente, mediante o sopro de Deus, nele remanesce, embora de si mesmo separado, em mulher, a porção fêmea. Daí a consciência necessária acerca desse pano de fundo, painel de uma criação no qual a lei cerimonial pode variar entre profano, mais profano e menos profano, tudo isso amorosamente. Pretensioso o sou, pois, em anelar que o leitor e a leitora passem em suas carnes com o novo nascimento em espirito nelas residido e possam aninhar a paz e a tranquilidade social para o cerimonial mudado no plano profano, com homem e outro homem se tornando uma só carne, com mulher e outra mulher, também, se tornando uma só carne, aspectos cerimoniais estes que, muito embora de efeitos aparentemente deletérios, não têm o condão de alterar a realidade de fundo de quem é macho e fêmea, por exemplo, assim deverem continuar sendo macho e fêmea, reprodutor, reprodutora, imutáveis, durante as suas existências de vida (vide versículo 27, parte final, do Capítulo 1, de livro de Gênesis), porque a mudança dessa lei de cerimônia, se não de todo substituta da lei do livro de Moisés, foi aperfeiçoada pela vertente do amor pregado e vivido e aplicado por Jesus de Nazaré que, em face desse amor, conseguiu vencer o mundo, tornando-se uno, por Cristo e em crística vivência com o Pai e que, sem nenhuma referência tumular, conseguiu continuar vivo ainda entre nós e para o sempre do eterno e do sem-limites do infinito. Logo, apenas os crísticos, aqueles que alcançaram e persistem crescendo num verdadeiro grau de espiritualidade, em carne mas por espírito e em espírito, se exibem desvinculados das pre-ocupações e das ocupações decorrentes da novel ideologia, porque vivem e convivem com o amor da melhor das consciências, semelhante àquele amor mediante o qual o Divino Mestre perdoou a Samaritana, podendo ser classificados, destarte, como os santos operários da Divina Oficina de Deus.
VI – NÃO, CARNAL
Carnal, por um acaso, tu viste, leste o texto que eu produzi e não gostaste de ser timbrado de profano? Não acredito. Assim, negas quem para mim me pareces, é pouco contra-argumento assim dizer, eis que se não apaga tanta luz de saber, tanta, tanta, tanta que me ofusca o sentido de ver. Carne puramente não és, não podes sê-la tão somente. Uma pobre carne. O ser profano, dentro ou fora de um armário, parte do fundo de uma verdade, sobre a qual o homem tem apresentado variações como fenômeno social de muitos tempos e civilizações. Então, já vejo que, do alto de uma competência, sorris a melhor sorte de quem, embora profano, evidencia uma situação completa de iniciado, de santo, ou uma iniciação em curso de um iniciando. E assim me asseguro de que aquela impressão que me assaltou logo no início do texto se esvai completamente. Sim, porque o ser profano não aparece como criação humana. Ele tem raiz de origem e a sua contraposição com o sagrado não quer dizer que este seja melhor do que aquele. É que sagrado é sagrado e profano é profano, jamais um pode ser o outro. Sendo assim, carnal, esse teu largo sorriso, acostumado a te ver assim, estranha-me que possas ser cego; muito pelo contrário, segas, deste e neste mundo, nada, senão os frutos de convivência sadia e operante de uma vida tranquila, resultado da harmonia com que levaste bem de vencida as esquisitices de um ego, o teu ego, porque passaste ao interesse do monte, não tu, propriamente, mas o elo comunicante com a fonte primaz da essência-central-estática: Deus. Não asseguro, porque assim também não podes assegurar a plenitude de um iniciado nem também a direção inclinada de um iniciando, ambos em campo que não é campo dos infinitos e eternos ventos que ventam a espiritualidade que salva. O teu sorriso é do tipo que não carece de músculos e de nervos para exibir a beleza de uma face suada de suores de lutas deste e neste mundo. É, sim, como o sorriso de Sara (Gênesis, Capítulo 18, versículo 12) e o próprio sorriso de Abraão (Gênesis, Capítulo 17, versículo 17), sorrisos da origem que passaste a nutrir, agora eu sei, neles depositada uma porção macho e outra, fêmea, ressoando um poder diferente do mundo conhecido, incapaz este de vencer obstáculos de velhice. Carnal, assim me apareces de repente e, se não fora o que me parece ser a postura divina no meu pobre mim também carnal, de cego, nunca poderia segar delícias num modo de ser crístico de um reino que se não finda jamais. E assim, carnal, em olhos de espírito, em espírito, por espírito, o sexo te é homo e hétero no fundo de origem, nenhum deles, entretanto, passível de ser relegado ao nada, senão àquele nada do eterno, que não tem fim, e ao do infinito, que não tem limites. Sim, de carnal, resta inexpressivo mas bem cuidado asseio de anseios regulados, porque sem deixar de ser e enquanto sendo, sorris a ausência de rosto e de físicos suores em ambiente de delícias que só um céu pode explicar.
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VII – SIM, ESPIRITUAL
Tu – que atrevida tentativa de intimidade de carne, de pobre carne – neste texto-fecho, que há de ser feliz no alcance do ob-jeto, forma falsa, porém, de tentar dizer o que, de indizível, anda escondido no recôndito de um não-ser valioso que disto, de ob-jeto, ou seja, de valor inclusive nem precisa. Isto é coisa e coisa de carne, carnal, esta que, aqui, tudo e muito se faz para desconsiderá-la e, por outro lado, que nem lado é, o espiritual, prendes-me e me esforço, sabendo-o (o esforço) à-toa, eis que vale vontade que lhe é totalmente alheia, porque avessa a posses. O sexo, em homo ou em hétero, não te ilude, espiritual, porque desilude-te o não-ser da transformação, a ressurreição, que, assexuando-te, dispensa-te de conjugadas uniões (Mateus, Capítulo 22, versículos 23 a 30, a seguir transcrito, neste entre parênteses: 23 No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, 24 Dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. 25 Ora, houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão. 26 Da mesma sorte o segundo, e o terceiro, até ao sétimo; 27 Por fim, depois de todos, morreu também a mulher. 28 Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que todos a possuíram? 29 Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. 30 Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu.) Daí nunca precisar do ser macho e do ser fêmea, de encontros conjugais, homos ou héteros, pois basta simplesmente não ser o céu de um reino que se não finda jamais, onde infinito (sem limites) e eterno (sem fim) nunca são, nem serão, nem foram os não-seres angelicais, assim parecidos (Mateus, Capítulo e versículos já mencionados), segundo a boca que, igualmente, nunca é boca, nunca a será, nunca a foi, o Cristo, este, sim, que Jesus de Nazaré assume como residido, sem nenhuma referência a tempo de antes e de depois e de hoje; já como Abraão, pode ter sido e foi ontem, como Cristo, antes de Abraão ter sido, nunca é, será ou foi e, sim, infinito e eterno (João, Capítulo 8, versículo 58). Portanto, em ti, espírito, tu e não este mortal cronista lhe pegas a pena do inconsciente e esta é quem escreve isto que o chama de texto, texto-fecho, este mesmo que o leitor de ossos sequíssimos (Ezequiel, Capítulo 37, versículos 1 a 10) vive, em espírito, de espírito, por espírito, espírito, na festa do céu de verdadeiro exército de ossos, de carne, de nervos, de músculos, daqueles quem daqueles ossos foram, porque tornados o exército pela força do espírito, este do atemporal crístico, que somente pode residir em reino que se não finda jamais. Sendo assim, que pobre e inválida e inútil aquela preocupação e ocupação do autor, quanto a não serem férteis os homos, quanto a serem estes possíveis causadores de uma humanidade “diminuinda”, também quanto ao aspecto respeitoso que merece já no céu totalmente imprestável, quanto aos contrapostos de sagrados e de profanos, de héteros e de homos, igualmente sem valia, pois, de seres angelicais, assim parecendo (Mateus, Capítulo e versículos já mencionados), assumem-se como Eus em somatório infindável, sempre resultando, assim: Eu + Eu + Eu + Eu… = D-EUS! O cronista já falou demais? É porque ele é pobre, é carne, todavia o Eu que nele reside, por certo, é um dos Eus daquela cadeia interminável de Eus, iniciado ou iniciando, no céu, como anjos, sem pares casados de héteros com homos, de héteros com héteros, de homos com homos. Isto é hoje? Larga-te, coitado autor, dessa teimosia. Esquece os ontens, os hojes, os amanhãs, pois infinito e eterno, sem limites e sempre, respectivamente, de sorte que se não espera de esperanças, mas, central-estático-essencial, há em vontade estranha de residir no Eu que não se pode dizer ser teu, leitor, no Eu que não se pode dizer ser teu, leitora.
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