EUS RELIGADOS, INCOMPREENSÍVEIS PARA A CARNE
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)
No mundo da religação com Deus, esta jamais será pela carne, pelos músculos, pelos ossos, pelos sentidos, pela imaginação ou pela memória. Tudo fica na dependência de Deus, ou seja, daquele que, essência, não há de se manifestar, enquanto centro-essencial-estático e que, por amor, no princípio, resolveu, em desígnio imperscrutável, resolveu – vínhamos dizendo – ser, resolveu ser periférico-dinâmico-acidental, sem, entretanto, refrear, ao menos, o seu não-ser estático-central-essencial. Aliás, num mistério nunca jamais passível de desvendar, em sede de celestial harmonia de anjos, arcanjos, querubins e serafins, e outras categorias mais, o véu ofuscante tocou o sentido do não-ser que, de centro-estático-essencial, se tornou surpreendentemente envolto em uma semente nunca contraposta ao bem, mas semente que é mal e que ofusca a luz por mais brilhante que seja a dos olhos não-periféricos-não-dinâmicos-não-acidentais. São olhos do sempre e do eterno que, mesmo assim, se tomaram de uma cegueira que ainda não seria periférica-dinâmica-acidental, porque essa dinamicidade, essa periferia e essa acidentalidade não encontrariam, como não encontraram nem poderiam mesmo encontrar o sentido de passageiro, de efêmero. Pois um anjo, de repente, perdeu a luz de seus olhos, e se deixou ofuscar e, de repente, estava enfileirado com outros anjos, uma falange, então, pronta para um estado de quebra que, enfim, se estabeleceu. E Deus, centro-estático-essencial, sem princípio ainda de manifestação de mundo, mundo dinâmico-periférico-acidental, junto com aquele que é Filho nunca criado, mas gerado dele Deus, unigênito, travou a famosa batalha no céu, da qual aquele anjo maldito saiu perdedor, e Deus, sendo, então, por seu querer, tempo do tempo, do princípio, com seu Fiat Lux, criou o mundo, precisamente o que é dinâmico-periférico-acidental. Ora vejamos que Deus, sempre em manifestação de amor, permanece centro-estático-essencial, porém permite a sua manifestação, a sua epifania, com a ex-istência, tudo enfim se fazendo com o seu poder e determinação, só mesmo se pode dizer que esse mundo, esse dinâmico-periférico-acidental se confunde com o tudo do mundo criado do e no princípio, inclusive a sadia compreensão do sair de uma terra e de uma parentela, compreendida em Abrãos que hão de se tornar em Abraãos. Pois a manifestação de Deus que deixa o próprio periférico-dinâmico-acidental em estado de estupefação é a sua complacência com a descida daquele anjo caído, precipitado que é no mundo desse mesmo periférico-dinâmico-acidental, porém aquele Filho, não que o contrapõe, mas se põe no céu, seria, como é, o único a poder combatê-lo nesse mesmo periférico-dinâmico-acidental, como o combate, e o vence, deveras, de sorte tal que o mantém preso na coleira dos tempos escatológicos. Importante é que se diga a esta altura que desde (?) a eternidade e a infinitude, que assim permanecem, pois, do contrário, eterna e infinita não poderiam sê-las. Permanecem centro-estático-essencial, a despeito de uma dinâmica-periférica-acidental, gozo da divina providência de Deus, como prova do seu amor, a sua criação, que só o seu Filho poderia salvá-la, como a salvou, melhor seria dizer que a tem por e como salva. A primeira Eva e o primeiro Adão não saíram da terra e nem da parentela, esta (parentela) que não tiveram, contudo, expulsos do paraíso em face de uma desobediência incômoda, outros adãos e outras evas habitantes do grandioso derredor daquele jardim chamado éden vêm se mantendo em sua terra e em sua parentela, das quais não conseguem se desgarrar. Nem mesmo um povo a quem se deveria ter como os efetivamente saídos de uma terra e de uma sua parentela, esses é que permanecem a elas agarrados, e só a vontade e a determinação de Deus é que pode fazê-los saídos tanto de uma como de outra. Eles somente, não, quem quer que seja de qualquer um outro povo. Pois bem. Deus nunca se ausentou, nunca se afastou, ele é presença, seja no céu, central-estático-essencial, seja na terra, periférica-dinâmica-acidental. E é neste seu sentido periférico-dinâmico-acidental que se evolve, envolve e se desenvolve e se revolve em redemoinhos incompreensíveis de providências divinas, e, como divinas, jamais compreensíveis ao limite limitado da reles compreensão dos adãos e das evas, aqueles e estas criaturas, limitadas, porém, ainda bem, veículos do indimensionável estado de centro-estatístico-essencial que uma cegueira de anjo do mal teima em continuar impossibilitando, enquanto simples adãos e simples evas, continuar impossibilitando – dizíamos – o alcançe do divino que nunca deixaram de carregar em si mesmos, como veículos. E isso tudo que vem sendo dito é fruto de esforço de uma mente finita, obviamente, que, coitada, nunca chegará, por si, ao centro-essencial-estático, a este só Ele mesmo, por permissão Dele, é que se vai obtendo, aqui, acolá, alguma luminosidade, que vai tornando possível a religação, mas a religação nunca do periférico-dinâmico-acidental, com o essencial-central-estático, e, sim, religação do eu-navegante naquele e daquele veículo periférico-dinâmico-acidental. Só este eu dialoga com o central-estático-essencial, pois tanto este como aquele perenizam-se no eterno e no infinito. E nunca seria preciso dizer assim para que assim fossem, sejam, são, seriam, serão ou foram ou tenham sido… eterno… infinito. Eterno, infinito, basta assim dizer, e abarcar o que a pobre capacidade humana não pode eternizar nem infinitizar. Nesse sentido, o centro-estático-essencial, eterno, infinito, pereniza-se no periférico-dinâmico-acidental, de sorte que os adãos e as evas de todos os tempos, presente, passado e futuro, adãos e evas que a vontade de Deus os quis separados, santos, não têm história, não abarcam o telúrico, senão acidentalmente, porque essencialmente os põem em complacência com o infinito e o eterno. Logo, é preciso se ter em conta que o eterno e o infinito, nunca sendo possível que deixem de sê-los, tudo quanto é de santo, de separado, eterno é, infinito é, eternos são, infinitos são. Então, eternos e infinitos assim permanecem, como assim Deus, centro-estático-essencial. Essa “categoria”, e assim o dizemos por conta de uma pobreza finita de linguagem, é um “conjunto”, e aqui neste termo vai também o reconhecimento de pequenez e de finitude, é um “conjunto” mesmo de eus, eus que se somam numa soma que é crescente e nunca regressiva. Eu + eu + eu + eu + eu + eu + eu + eu, indefinidamente eu, eu, eu, eu… – será que o eu na carne do cronista é um deles? Deixem-me assim, interrogativo, por uma força de humildade, característica de minha dinamicidade, da minha acidentalidade, da minha periferia. Mas, por certo, na senda estreita do que conheço e possa mais conhecer, pobre conhecer, só posso admitir que sempre o que Deus quer não é, ou seja, resta sempre indimensionado de eterno e de infinito, ou seja, ainda não se trata de realidade histórica e telúrica, ou seja, ainda, e tantos outros “ou sejam” ainda assim incapazes de abarcar em minha pobre mente, pobremente pobre, fazendo-me, sentindo-me doriel de dorieis, embora poucos, pois muitos são os josés e os antonios e os franciscos e os joãos e os…, e as marias, e as teresas, e as josefas, e as severinas…., todos, todos, todos, todas, todas, todas santos, santas, separados, separadas e, por santos e santas e separados e separadas, de carnes, de músculos, de nervos, de ossos, de sentidos, eternos, infinitos, com nomes inscritos no céu, edifício indestrutível e, mais do que isso, que nem construídos foram, porque o eterno e o infinito não se constroem nem se destroem, assumem o centro-estático-essencial, este que, por graça, sim, permite que o periférico-dinâmico-acidental de um doriel se transporte em central-estático-essencial, por uma vontade deste centro, obviamente. Então, neste mundo vencido, o mal ficou para trás, preso, com o rabo entre as pernas, com o perdão pela chula expressão, mas nisso não vai menosprezo, que disso não se ocupa o que é o centro, o que é a essência e o que é o estático. Importa é que mais do que uma sensação, não seja eterno e infinito, assim como papas (verdadeiros), como swamis (verdadeiros), como imãs (verdadeiros), como rabinos (verdadeiros), em espírito, de espírito, por espírito, religados, religados, religados. Eus religados. Eus religados deles, santos e santas, separados e separadas, e também dos que, periféricos-dinâmicos-acidentais, como eles, como elas, os que nunca se rotularam de papas, de cardeais, de bispos, de pastores, de senhores e monsenhores, de swamis, de ímãs, de rabinos, de…, tantos e tantas quantos e quantas sejam os escolhidos e escolhidas dentre tantos e tantas chamados e chamadas… quem não tem olhos, veja; quem não tem ouvidos, ouça…