ESQUECIMENTO

ESQUECIMENTO
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Com o avançar da idade do ser humano (já avançada), o esquecimento se torna notório, sem olvidar que ele – o esquecimento – é de fundo biológico, não decorrendo do querer de ninguém. O próprio ser que foi Jesus de Nazaré – abstraído o tanto do quanto de divino o libertou, enfim, de um túmulo – inclui-se como um daquele ninguém de uma diversificada generalização, tal como retromencionado. Não fora o limite de trinta e três anos, a projeção temporal natural de idoso o faria esquecer. Aliás, o querer de Deus é único a permitir que o Filho, vencedor de uma guerra no céu contra Lúcifer, suplante a arma do mesmo Lúcifer, agora Satanás, na terra, com capacidade de ferir somente até o calcanhar, eis que detém (o Filho) o poder de ferir cabeça daquele Mal, representado na serpente-falante do paraíso, devendo o referido Mal sair de cabeça ferida, Mal esse residente na realidade de quem passou (todos os filhos de mulher passam) a residir no imenso derredor do jardim paradisíaco, que é o mundo todo, mundo esse que está integralmente sob o tal Mal de Maligno. Estamos todos – ressalvados os Eus salvos pelo Filho no querer do Pai, em irrealidades de entes celestes, estamos todos – vínhamos dizendo – num corpo de carne, de músculos, de nervos, de ossos que são realidades submissas ao esquecer de um esquecimento, na alongada projeção de um tempo – nunca se duvide disso!

MEU ANIMAL E (MEU?) EU

MEU ANIMAL E O (MEU?) EU
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Parados ou andando ou correndo ou deitado ou de cabeça para baixo, do jeito que for em que se estiver, somos os humanos, o conjunto de sentidos e de órgãos, que representam um lado animal que o temos, e não podemos negar. Não há ninguém, nascido de mulher, que se possa dispensar dessa condição animal, com órgãos, com sangue que circula em e por todo o corpo, com um sistema de respiração, com um sistema mastigatório e digestivo, começando, por óbvio, com a mastigação e terminando com a expelição de excrementos e urina, contudo, nesse processo todo, o mais importante é a energia que esse organismo termina assimilando e que o mantém vivo, no ciclo de toda uma vida que se vive. Veja-se que ninguém escapa dessa realidade. Ninguém. Pode ser o mais limpo, o mais asseado, aquela que, tão bela e altamente perfumada, desfila em passarelas, aqueles que, paletós das melhores marcas, se apresentam em salas, em auditórios, em fóruns, um trabalho, um corre-corre, mas a realidade animal está lá. Todos, sem exceção, carregam consigo as ações e reações de um processo que há de funcionar de modo tal, que conduza a um viver bem, sem dores disso ou daquilo. Aqui, acolá, há situações em que escapam os gases mal cheirosos, como a fazer lembrar que não adianta orgulhar-nos tanto, porque, dentro, se processa aquele alimento de que se alimenta, podendo ser coisa de rico ou de pobre, mas todos se transformam em líquido e em massa que são enfim expelidos. Então, os plebeus ou os ricos, os de cultura apurada, ou não, os que exercem cargos relevantes, ou não, são igualmente dessa realidade que fede, internamente, no que tem de ser expelido, obviamente. Inclusive os que se tornaram santos, ou seja, separados, por conta da bondade de Deus, que, por graça, permitiu que eles nascessem de novo. Mas, mesmo nascidos de novo, continuaram “mortos” da “morte” das ilusões do mundo, ainda que permanecendo vivos, à espera de uma bio-morte que termina vindo, inevitavelmente, para, aí sim, tudo feder. Há a vitória sobre a morte que tanto se propala no mundo religioso; esta vitória não é sobre a tal bio-morte. A vitória é a de uma “morte” que se “morre”, por vontade de Deus, por sua graça, “morte” que se “morre” – vínhamos dizendo – das ilusões do mundo. Esses são os santos, podendo sua separação se dar, até mesmo, pelo som da última trombeta, desde que a separação, a santidade seja de uma plenitude tal, que, de açoites, de espinhos de uma coroa de espinhos e de uma prisão a uma cruz não se submetam mais os sentidos dolorosos que disso podem advir, naturalmente. Quero, então, ressaltar um quadro animal que se vive mesmo em sanidade, separado, em santidade e que nele se é mergulhado inexoravelmente, ainda que sem se dar conta de sua própria natureza, que é provisória, contudo, pelo certo, é mais salutar, nunca se vive, em constância, mergulhando-se nessa realidade, vamos aqui chamar de cruel? Melhor é como que ignorá-la. Quer-se mesmo é viver a vida e nunca estar-se ligando as possibilidades quanto a ser ruim isso ou aquilo. Nesse sentido, o cuidado é de tamanho tal, que o homem alcançou uma rede de medidas que visa mantê-lo são, em sua realidade animal, para o seu bem e de todas os demais que o rodeiam. Essa realidade até aqui descrita, realidade de carne, de músculos, de nervos, de ossos, de sentidos, é ela a que se vê refletida e comprometida em batismos, de quaisquer espécies, seja por aspersão ou por imersão, ao natural, em águas correntes, ou em templos ditos religiosos, em tanques ou pias chamadas batismais. Porque o batismo de fogo nada tem a ver com o batismo do que é animal, senão reflexivamente. É quando, nascendo-se de novo, a vontade de Deus assim quer, a partir da enorme satisfação do “este é o meu amado filho em quem me comprazo; escutai-o”. Esse consentir divino conduz ao Getsêmani do “Não seja feita a minha vontade, Pai, mas a tua vontade”. Pois bem, nem mesmo a graça que conduz, por vontade divina, a uma determinação desta, pode o animal contrariar, mesmo que batizado. Tanto que Maria disse sim, mesmo podendo dizer não, um não, entretanto, que seria em vão, porque o sim da graça é de inevitável eclosão. Pois o não de Jonas nos mostra que foi preciso o incompreensível de um vômito de uma baleia para que ele terminasse cumprindo aquilo que lhe foi uma determinação de Deus. E Moisés também não recuou, apenas achou-se pequeno, procurando saber quem mandava que ele agisse de modo a tirar o seu povo do cativeiro dos egípcios. E lhe foi dito, ante a pergunta “quem te mandou fazer?”, bastaria dizer: “Eu sou”, assim ele mandou e manda fazer. Então, tudo isso se dá ao nível do animal, porém, até contra a sua vontade ou mesmo atitude de impacto, como assim foi com Sarai, alvo de graça que encarou com risadas de quem era uma carne de animal, que tem o que fede, por dentro, contudo, pode, como pôde, ser alvo de uma graça, como já dito, a de ter filho na velhice, o filho da promessa, Isaque. Afinal, quem saiu de sua terra e de sua parentela, Abrão e que, em razão de tais saídas, se tornou Abraão, mesmo neste papel de agraciado pela ordem divina, nunca deixou de ser animal. E aqui não se fala de separado, de santo, ele é sim um patriarca, da sociedade patriarcal dos Judeus. Pois bem, vive-se, neste mundo de encarnação e de encarnados,
inevitavelmente, porque, como Deus, o Natal se manifesta, cada um tem o seu, individualmente, como o Natal de Adão e de Eva, privilegiados de um jardim, só que, com iniquidade de desobediência, agora, todos e cada um nascem, têm o seu Natal no imenso derredor do primeiro jardim, derredor esse que é o mundo, em sua imensidade. Vem, então, por vontade de Deus, dentre muitos chamados e poucos escolhidos, pela vontade exclusiva de Deus, pois, quando ele quer, a vontade humana se destrói, se anula, vive uma decepção de vida, porque é como não tivesse condição de viver o e no derredor do jardim primevo, como Caim, que ficou com um sinal na sua testa, o sinal desse separado se firma e se afirma no poder divino de realizar o irrealizável. Todos esses Adãos e todas essas Evas, o e a do jardim primevo, como os e as do imenso derredor do tal jardim, como, enfim, os e as do novel jardim, são tópicos e típicos, mas do ponto de vista da carne, dos músculos, dos nervos, dos ossos, porém, esses do e essas do segundo jardim, se são tópicos e típicos, deixam de sê-los e de sê-las pelo novo nascimento, mantendo o ser em eternidade e infinitude que nunca deixaram de ser, senão não seriam eternos e infinitos, sempre. Como, aliás, disse Jesus: “Antes que Abraão fosse, eu sou”, esses habitantes do novel jardim de Getsêmani não se há de dizer que nunca foram ou que ainda podem ser ou como ainda poderão ser, porque o animal, até a consumação do século, vai prosseguindo e se finando, nesses compartimentos temporais, mas o eterno e o infinito, por o serem assim, nunca deixam, deixarão ou deixariam de ser, sob pena de se negar o que inegável o é ou inegáveis os são ou mais propriamente não são pela complacência de uma extensão e de um fim, respectivamente. Então, os santos, não digo de todos os tempos, mas do sempre, eternos, infinitos, se formos buscá-los, há uma infinidade deles, batistas, joãos,madalenas, filipes, estêvãos, paulos, pedros, jesuses, davis, salomões, marias, lucases, mateuses, marcoses, agostinhos, thomases de aquinos, joões paulos segundos, dons hélderes câmaras, teresas de calcutares, marias de nazaré, das conceições, das dores, mães dos homens, imaculadas, terezinhas de jesuses, sãos josés operários, sãos josés dos egitos, sãos sebastiões, sãos josés de anchietas, sãos franciscos, santas claras, padres josés coutinhos, todos, todos, todos, sem exceção, inclusive os que a minha incapacidade de memória de cronista os reteve esquecidos, não lembrados, com certeza florescem nesse novel jardim, o de Getsêmani, jardim que os olhos de carne, inclusive os de seus próprios habitantes, não podem nem hão de vê-lo, jamais. “Veem-no” os olhos em espírito, de espirito, por espirito dos que, seus habitantes, acham-se em indimensão de tempo e de lugar, sendo em eternidade e infinitude, antes que Abrão tivesse sido, pois o Abraão, esse é o que sai de terra e de parentela, porque é sempre eterno e infinito. É quando um quando da carne de dorieis sai de sua terra e de sua parentela, sem receios de críticas, se assume em posse do nascimento divino, em espírito, de espirito, por espirito, para o registro, aqui, nessa sopa de letras e de letrinhas, por onde não deve haver onde nem por onde, a indimensão do céu, sim, o pondo, nem tanto, o tornando indimensionado na dimensão de eterno e de infinito, como e com em todos os santos citados e os ainda por citar, também. Mas não se duvide, esses dorieis são carne e fedem no que têm de feder, até que desponte a bio-morte e, depois, até a consumação do século, para ela carne morta, nunca para o nascido de novo, pela graça, em espírito de espirito por espirito, o eu nesse pobre mortal de carne dos dorieis. Assim, como começamos dizendo, “Parados ou andando ou correndo ou deitado ou de cabeça para baixo, do jeito que for em que se estiver, somos os humanos, o conjunto de sentidos e de órgãos, que representam um lado animal que o temos, e não podemos negar. Não há ninguém, nascido de mulher, que se possa dispensar dessa condição animal, com órgãos, com sangue que circula em e por todo o corpo, com um sistema de respiração, com um sistema mastigatório e digestivo, começando, por óbvio, com a mastigação e terminando com a expelição de excrementos e urina, contudo, nesse processo todo, o mais importante é a energia que esse organismo termina assimilando e que o mantém vivo, no ciclo de toda uma vida que se vive. Veja-se que ninguém escapa dessa realidade. Ninguém. Pode ser o mais limpo, o mais asseado, aquela que, tão bela e altamente perfumada, desfila em passarelas, aqueles que, paletós das melhores marcas, se apresentam em salas, em auditórios, em fóruns, um trabalho, um corre-corre, mas a realidade animal está lá. Todos, sem exceção, carregam consigo as ações e reações de um processo que há de funcionar de modo tal, que conduza a um viver bem, sem dores disso ou daquilo. Aqui, acolá, há situações em que escapam os gases mal cheirosos, como a fazer lembrar que não adianta orgulhar-nos tanto, porque, dentro, se processa aquele alimento de que se alimenta, podendo ser coisa de rico ou de pobre, mas todos se transformam em liquido e em massa que são enfim expelidos. Então, os plebeus ou os ricos, os de cultura apurada, ou não, os que exercem cargos relevantes, ou não, são igualmente ambulantes dessa realidade que fede, internamente, no que tem de ser expelido. Inclusive os que se tornaram santos, ou seja, separados, por conta da bondade de Deus, que, por graça, permitiu que eles nascessem de novo. Mas, mesmo nascidos de novo, continuaram “mortos” da “morte” das ilusões do mundo, ainda que permanecendo vivos, à espera de uma bio-morte que termina vindo, inevitavelmente. Há a vitória sobre a morte que tanto se propala no mundo religioso; esta vitória não é sobre a tal bio-morte. A vitória é a de uma “morte” que se “morre”, por vontade de Deus, por sua graça, “morte” que se “morre” – vínhamos dizendo – das ilusões do mundo. Esses são os santos, podendo sua separação se dar, até mesmo, pelo som da última trombeta, desde que a separação, a santidade seja de uma plenitude tal, que, de açoites, de espinhos de uma coroa de espinhos e de uma prisão a uma cruz não se submetam mais os sentidos dolorosos que disso podem advir, naturalmente”. Ufa, fomos longe na repetição. Vamos parar por aqui, nesse animal que fede e que tecla, e que federá inteiramente no fim e ao cabo, mas cabe no cabo de um querer divino, que possa fazer o eu de novo nascido, desperto, um eu que jamais poderá ser meu nem de ninguém enquanto animal.

UMA PROJEÇÃO MORTÍFERA

 

UMA PROJEÇÃO MORTÍFERA

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos) 

A projeção do tempo foi (e continua sendo) veneno terrível, a alimentar a visão canhestra que os homens tiveram e ainda continuam tendo, primeiro a primazia a um eu-personal, depois, a ambição de posse de terra, evidenciando, destarte, flagrante desobediência ao comando divino derramado sobre abrão. Até que se entende que este tenha assim consumado o intento divino, saindo de terra e de parentela, porém o histórico que se fez prevalecer foi o da existência de uma terra de verdade como terra, distante, onde se nasceu e se viveu e dela se saiu para se instalar em outra distante daquela – uma terra onde mana leite e mel… Essa projeção temporal foi seguindo, foi seguindo, até os dias e os últimos momentos desse hoje que todos os vivos da vida abundante vivemos. Nessa lógica, torna-se vã a visão correta, a visão consoante com a visão divina, por meio de um homem encarnando o divino, como Filho deste divino. É que, em sua vida e missão, Ele efetivamente saiu da terra e da parentela que o faziam do mundo, correspondendo ao dizer do Gênesis sobre o sair da terra e da parentela a sua seguinte assertiva que se pode ler em Lucas, Capítulo 14, versículo 26: “Se alguém deseja seguir-me e ama a seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs (parentela), e até mesmo a sua própria vida (terra) mais do que a mim, não pode ser meu discípulo”. Os homens e mulheres de hoje, e não se pode ter noção de quantos dos anos seguintes em quantidade de muito mais ainda, perdurarão na cegueira de sua parentela e de suas terras, verdadeiras amarras a cegá-los, caindo todos na mesma cova que os tornam apegados a um deus, deus grafado assim mesmo com letra inicial minúscula de suas ânsias de gorduras de egos inflados em eus-personais, ciosos de que possam ser o centro, enquanto terra, e também o centro, como parentela, assim olvidando o comando divino já explicado alhures. Se é o bramanismo e o budismo, fazem estes dos homens como os de posição sentada, perdidos em meditações; se é o islamismo, torna os homens em posição de submissos; se é o judaísmo, são os homens em posição de marcha numa incessante busca por um messias; se é o cristianismo, a posição ereta de quem, deitado da morte, se alevanta para uma ressurreição. Todavia, não se largam, em nenhuma dessas orientações religiosas, seja da terra, que são, seja da parentela, que têm. Até quando, tempo? Até quando? Se o cristianismo é a afirmação de um mundo de terra e de parentela que passa pela negação desse mesmo mundo de terra e de parentela, as palavras de Jesus, segundo Lucas, conforme transcrita, se perdem no emaranhado de um apego a amarras do mundo que sempre fica na contramão de qualquer negação delas. Também o negar não há de se restringir ao completo abandono e negação delas. Seria uma convivência, um sentido de pé no chão, sabido que ambas são as responsáveis pelo ser, ou seja, a encarnação é necessária tanto como terra como parentela. No entanto, por ser imprescindíveis por si mesmas, imprescindíveis se tornam igualmente como elementos necessários à compreensão do não-ser de uma ressurreição. Umas hão de estar atreladas a outras, ainda que provisoriamente, como importância passageira, jamais como importância final.

CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

A criação do homem-gênero (macho e fêmea) e a sua projeção na vida como um-vivo-dessa-vida (vida abundante), precisamente aquela criação sob proteção paradisíaca-natural e a simplesmente natural, arrolam-se na expressão do “e viu Deus que tudo quanto criado era bom”. E a de proteção paradisíaca também era (e continua) natural, não custa reforçar o que já ficou dito. Como bem se pode ver, a primeira referência à criação do ser humano está em Gênesis, no Capítulo 1, com a determinação do “crescei e multiplicai’; portanto, de ordem natural essa criação, onde todos, como reprodutores, nascem com dores de parto da respectiva genitora e todos comem com o suor do rosto. Veja-se o referido capítulo, precisamente os versículos 26 a 31. Necessário ressaltar que, neles, não há referência a proteção, por meio de um jardim de delicias, chamado Éden. A referência seguinte está em Gênesis, no Capítulo 2, versículos, 7, 8, 15, onde se trata da criação do homem, tanto natural, quanto de proteção paradisíaca. A necessidade dessa observação aparece como única a poder explicar o fato de Caim ter encontrado pessoas estranhas ao enredo de uma vida edênica e de uma vida extra-edênica; aquela, de um casal e esta, do mesmo casal, além dos seus três filhos, isto tudo após a desobediência do referido casal e sua consequente expulsão do ambiente edênico de proteção. Com tal expulsão, perderam a proteção, conquanto também tivessem o lado natural.  As tais criações foram decorrentes do “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, no pós-guerra celestial, já então sob a epifania, epifania decorrente, por sua vez, dos vários e sequenciais “fiats”. Veja-se que todas elas já “carimbadas” com a possibilidade de maldição, porque, criado o mundo, para este mesmo mundo Deus fez precipitar tanto a Lúcifer quanto a uma falange de anjos, que o seguia (Apocalipse, 12, 9, parte final, 1ª João, 5, 19, parte final e Jó, 1, 7), perdedores daquela guerra celestial retro aludida. Apenas à de proteção paradisíaca lhe foi dado esse tratamento especial, sem deixar de ser natural – isto já foi dito mas não custa repetir mais outra vez. A todas, portanto, uma liberdade fazia-as tendentes tanto à qualificação de bom (da parte de Deus) como ao mal precipitado à terra e inerente a Lúcifer, como assim à falange que o seguia, no céu, e que assim prosseguem, na terra, tanto aquele como estes; aquele, desde que tempo é tempo, sob a variada denominação de satanás, de diabo, de diacho, de coisa ruim etc.. Enquanto isso, aos dois expulsos do jardim, pouco lhes contrapôs o desapontamento do Senhor, ante a desobediência cometida por eles como casal inocente, eis que a estes e à respectiva descendência, em espírito, de espírito, por espírito, uma determinação eficaz foi gesto de amor-essência, tal como amor-essência tinha sido a decisão de não somente criá-los, mas necessariamente protegê-los. Então, a proteção foi substituída pela determinação. A delícia perdida por motivo de uma desobediência, substituiu-a a tal determinação, segundo a qual o mal pode ferir até o calcanhar, contudo o de calcanhar ferido pode e efetivamente fere a cabeça de quem é mal (Gênesis, 3, 15). A criação natural, precisamente a que foi encontrada por Caim, quando condenado a errar pelo mundo, após o episódio criminoso do fratricídio cometido (por uma questão de culto a Deus), também é passível de maldição e desvestida de mínima proteção; a criação à qual se juntou Set, terceiro filho dos expulsos do paraíso, também, mas ele propriamente, como o próprio Caim, não, pois protegidos daquela determinação; tanto que o dilúvio teve por fim eliminá-las, porém com as exceções que sabemos. Há quem diga que nem essas exceções estariam previstas. Mas o plano ressalvou uma família inteira, de pai, mãe, filhos e noras, numa arca. Não havia filhas nessa família, mas filhos. As noras, portanto, já teriam advindo da criação natural. De igual sorte a mulher do homem. E o homem não é? Não, porque, de não é para Noé (eita, língua portuguesa!), se demonstra que este, a rigor, não seria somente de criação natural, mas propriamente da descendência dos expulsos do paraíso, privilegiados da já mencionada determinação. Como sabido, o selo de proteção dos protegidos do Éden se diluiu com a desobediência. E seus protegidos, de benditos, tornaram-se tão malditos quanto os naturais da estirpe encontrada por Caim, fundador da primeira cidade de que se tem notícia – a cidade de Nod. Todos, pois, à exceção do casal privilegiado de delícias, nascidos com as dores do parto de suas genitoras e todos, inclusive o dito casal, comendo o pão com o suor do rosto. Esse privilégio de um casal com único propósito de servir a Deus – tanto que o selo de proteção abrangia a condição de infertilidade – veio a torná-lo o único expulso do paraíso, por causa da tão sabida enorme desobediência. E dois dos filhos dos expulsos do paraíso somam-se aos naturais, malditos, que a  limpeza de um dilúvio, igualmente em relação aos familiares dos dois ex-protegidos, os tornam os piores de hoje e de muitas gerações anteriores a esses ditos e tidos de hoje, que tristeza! Para a descendência dos dois expulsos nem tanto, já que a determinação deixou de sê-la (determinação) numa cruz de ser-viço e de plena obediência, por meio de um ser de carne. Ou seja, aquela batalha espiritual, no céu, entre o Filho de Deus, Filho que é o mesmo que o arcanjo Miguel, e o anjo Lúcifer (portanto entes celestes), transporta-se, para a terra, porém permanecendo (a dita batalha) entre entes celestiais, enquanto o lado da criação natural, o dos porcos (!), na lama dos herodes e dos pilatos, dominantes e dominados, não causam decepção alguma, perante Deus-criador, pois com o mal neles entranhado, de decorrência, era de esperar que fossem como são (Romanos, 7, 14-25), inclusive, na órbita religiosa, enquanto pretensiosos aprisionadores de deus, nome este grafado assim mesmo com letra inicial minúscula de suas fraquezas de carne. Desta estirpe somos todos nós, em carne, em músculos, em nervos, em ossos, contudo ainda privilegiados, como os da descendência dos expulsos, da residência do eu-divino no si de cada um, porém extravagantemente expostos às fraquezas daquela carne, daqueles músculos, daqueles nervos, daqueles ossos. Ao Filho, vencedor no céu, na batalha, na terra, se Lhe conferiu arma que fere cabeça, enquanto que o Mal a sua arma não permite ferir senão até à altura do calcanhar. Isto, contudo, é o que se não confunde com criação, conquanto esta se faça como necessidade de ser, de ex-istir,  para todo o criado poder assistir o amor-essência atuar em favor do eu, mesmo ferido o calcanhar desse ser, porém a cabeça do Mal atingida em cheio, deixando-o preso até a consumação deste século… E, apesar desse quadro horrendo de herodes e de pilatos, no curso de milênios, onde todos se impõem contra todos, dominantes e dominados, a contragosto, com o salgado imposto, naturais outros, quais anás e caifaz, se impõem como dignos representantes de Deus. Mas, mesmo num quadro como este, querendo Deus, na tal batalha, em terra, por amor-essência, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam ações como a do bom samaritano (Lucas, 10, 30-37); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, por suas mãos, se dispõem a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam a determinação de retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se aceitam sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam a ordem e lançam suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, de fugitivos, aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo,  encarnam os que se reconhecem com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se comportam como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)…

VALIOSO NADA

VALIOSO NADA
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

I

Nada me perturba.
Inquieto, investigo
seu poder de nada ser
e, mesmo assim,
perturbar-me.

II

Só mesmo o que não sou
para preenchê-lo
de nada de um nada
poderoso e essencial e eterno.

……….

Explicando, pelo próprio explicado, que o sou, tanto quanto o é e foram e serão tantos e quantos outros tantos, desde o princípio ao final-consumativo-escatológico, ou seja, do alfa ao ômega, do início ao fim. Tudo como epifania que é, manifestação de Quem não é, continuando este não sendo, como centro-estático-essencial, na manifestação imanente, periférico-dinâmico-acidental, presente sem corpo, pois Se não confunde com o corpo do tudo manifestado. Então, este que ora escreve é sem diferença alguma de quem já foi e de quem será. Privilegia-se, no entanto, pelo agora; pois dos outros (dos que foram) se fala em outrora; e dos outros (dos que deverão ser) se fala em porvir. Quem foi teve o seu agora e quem será pelo agora já passou. Tudo e todos dentro dessa lacuna de tempo entre princípio e fim. Dou-me, então, a investigar e rio de mim, desse mim atrevido, aventureiro. Sempre o somos assim, tanto este mim como o si de quem quer que seja, frutos da epifania divina. Aliás, o próprio aliás é também manifestação dessa epifania que fez tudo existir, inclusive o tal aliás. Por isso, o rio de mim ri-se de si mesmo, sem nenhum enquanto do e para o nada poderoso e essencial e eterno. Então, neste meu agora, como contraponto do nada (pois disto o nada se dispensa por não-ser), consente-se o Eu divino neste meu pobre mim no mesmo nada de inex-istência de D-Eus, nunca por uma vontade desse Eu (pois vítima de más influências de carne, por motivo de uma desobediência), consente-se o dito Eu – vinha dizendo – pela vontade exclusiva de amor de D-, destarte conjugando-se em D- + Eus de D-Eus! Isto tudo dito pouco importa ou nada importa ao nada, já que em nada subjugado a isto tudo ou a tudo isto; tudo isto de uma diversidade que neste agora o meu mim constata e se apaga ou, mesmo não apagado, outrem, em futuro, poderá dizê-lo igualmente, pouco importando isto tudo ou tudo isto ao prevalecente nada; nada em que cabe o Eu, pelo querer exclusivo de D-Eus! Valioso nada, então, preenchido pelo nada do Eu sempre unidade, a despeito de sua residência no meu mim como no si de tantos e de tantos e de tantos outros filhos de mulher. Ver-se, pois, na construção de um agora assim é ser partícipe da faina de silenciosa vontade, em infinito e em eterno amor de D-Eus!, sem necessidade de esforços humanos de Kyrie Eleison e de humanas investigações.