QUANDO MORRER NÃO ME FARÁ MORRIDO


QUANDO MORRER NÃO ME FARÁ MORRIDO

 

 

Quando morrer não me fará morrido,

é porque não fui sempre no sou;

Quando morrer não me fará morrido,

permaneço atual nos olhos de leitores;

Quando morrer não me fará morrido,

perdura o repicar dos sinos de minha alegria;

Quando morrer não me fará morrido,

ouvintes me terão presentes em sonoras vozes de gravações;

Quando morrer não me fará morrido,

escritos de internet podem ser o meu ainda estou aqui;

Quando morrer não me fará morrido,

a rotina de presença na roda de insubstituíveis modos me cumprimenta todos os dias;

Quando morrer não me fará morrido,

é certeza de vida de vivo que vive no outro igualmente vivo;

Quando morrer não me fará morrido,

se acende a luz do circo nas tantas palmas de uma ausência;

Quando morrer não me fará morrido,

é quando deixa o tempo sem medida de quando;

Quando morrer não me fará morrido,

digito o prazer de continuar estes toques em tantos corações;

Quando morrer não me fará morrido.

A UM RELIGIOSO ENFEZADAMENTE SUAVE

A UM RELIGIOSO ENFEZADAMENTE SUAVE

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Na hora, no exato momento do desate, é o passo a passo de uma volta, de um desfazer-se que não é meu nem é teu, de vontade. O enfezado de sempre, desde uma concepção, inicia o regresso natural de desenfezar-se, a partir de um corte de oxigenação sanguínea. É o molambo do ser agora desnutrido de sentidos. É qual um pedaço de madeira, pouco a pouco apodrecendo, até virar pó. Por isso, anele-se uma passagem tal, enquanto suavizado o processo enfezante de nutrição, pois parece horrível e de maior padecer o início do desate quando o corpo se faz pensar pelas tripas, enfezadamente. Pois isto tudo é o natural de uma natureza a que se não pode desligar o ser. É o ser terra de um barro de que se fez, próprio de vivos da vida, desenfezando-se. E a espetacularização de vivos que prosseguem enfezados e se enfezando em nada altera o regresso de qualquer que seja o que vai cessando de enfezar-se até o pó de onde todos provimos. Por isso, espetáculos à parte, o Eu com Deus prossegue infinito, eterno, eterno, infinito, sem enfezadas poeiras existenciais…

 

SEM MAIS CRUZES

SEM MAIS CRUZES

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Este mundo é uma cruz, resultado de um fazer, o próprio fazer que já é cruz em si mesmo. Foi desígnio, imperscrutável desígnio de quem nunca há de ser quem, nesse indefinido linguajar de homem que o sou, carregando, contudo, o importante do dito quem, neste texto, aqui e agora chamado de Eu; Eu-divino, melhor dizendo. Para o mundo, a cruz foi criada crucificando o todo de uma existência, como que codificada. O fazer, que é cruz, iniciado como luz, veio a resultar o conjunto começado no mineral, seguido para o vegetal e, em escala de menor resistência, para o animal. Este, em toda a sua generalidade, não se pode dispensar, jamais, do vegetal e do mineral. Todo o vivo animal (com o perdão pela redundância) não se dispensa do vegetal, nem se dispensa ainda do continente mineral. Então, no fazer e na cruz remanesce ingrediente libertador, porque, como tudo se fez por amor, seria preciso, realmente, libertar, em primeira linha, para, na sequência, se justificar um peso existencial. O autor deste texto, a propósito, carrega consigo esse peso. Todos carregamos. São de Paulo Apóstolo as palavras que autorizam assim afirmar. Basta ler os versículos 14-25, do Capítulo 7, da Epístola aos Romanos. Conquanto se perceba uma corajosa consciência na referida passagem bíblica, inconscientemente, por sua vez, o Eu, livre das más influências então reconhecidas, encontra, no Cristo, Amado Filho de Deus, o abrigo fundamental para, na consumação do mundo, largar-se do existir crucificante e crucificado. Por isso que Deus-amor-libertador, na cruz de sofredor, elege a condição de libertar como essencial para possibilitar. Sem ela, seríamos sempre cegos condutores de cegos. O autor vem falando de cruz, falando e falando tanto, mas o leitor atento se larga de dois pedaços de madeira de suplícios dos homens, este suplício que é mesmo de quem tem a cegueira e cai na cova, inapelavelmente. Pois, leitor, já o vejo liberto do engano, divorciado de um quadro doloroso de homem, mostrando o lastimável estado de dores impingido a um homem. Retire-se do panorama tantas cruzes materiais e, nos seus lugares, olhos em espirito, de espirito, por espirito, Eus religados a Deus, por meio de Amado Filho, sem mais cruzes, mormente a decorrente da luz de um fazer, a cruz existencial de tantos pesares.

ASSIM NÃO SEJA

ASSIM NÃO SEJA

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Cruz antes do faça-se? Não, concomitantemente. O desígnio imperscrutável de Deus em, de início, epifanizar-se com um fazer de luz (fiat lux) são mesmo, esse e alguns outros fazeres, a cruz de um sofrer de existência, estando ela, portanto, intrínseca, no faça-se, e vice-versa. Aquele desígnio de um mover divino, inexistente, inexistido, atemporal, eterno, infinito, não é por uma epifania que Se Lhe impõe transcendentalidade. A imanência do faça-se é cruz em si mesmo.  A liberdade, em Deus, não chega a Lhe impor condições. O que tal liberdade contém é, como fruto do amor – sua essência -, um Cristo, como Filho, Amado Filho, mas não seria liberdade plena, acaso estabelecesse, no céu, que entes celestes fossem de um céu de prisão. Lúcifer, anjo assistente de Deus, teve essa liberdade. Dela provém não só a rebeldia de Lúcifer, como a própria luz de um fazer. Por isso que não se admite dizer de uma cruz antes do faça-se. Cruz e fazer entrelaçam-se. Em remate, o fazer, que é cruz, se estende, dentro da liberdade, à divina deliberação em tornar o anjo precipitado na terra do mundo criado, existido, confundindo-lhe o mal com a terra, e vice-versa (Romanos, 7, 14-25); mal, como visto, fruto de uma liberdade e esta como decorrência do amor. Amor, amor, amor, sempre amor, essência de Deus. Então, o que já veio como cruz, a luz de um fazer, do Filho, em espírito, o amor que tudo é e transcende, no imanente restou  presente como o mal e como o Filho. E o homem criado, com alma vivente, era luz e era cruz. Nele, uma presença de liberdade que, por ser assim, em nada dificultaria ao mal: travestido em serpente falante, fez caídos a mulher e o homem da criação protegida, apesar de habitantes bem protegidos de um jardim de delícias. A grandiosa diferença é que o mal, de ferir, ficou limitado a não passar da altura de calcanhares. Mas, ao Filho, o poder de ferir cabeça. Calcanhar e cabeça, alegorias a demonstrarem o poder de quem mais pode e o de quem menos pode, evidentemente. Logo, o homem-espírito privilegia-se. O Eu, nele, Deus, pelo Filho, fere a cabeça e prende o mal, até a consumação do século, do existir, da luz, da cruz…, enfim a inexistência de Deus… Absurdo? Absurdez nenhuma, absurdez é o mundo como uma cruz, suportada por um tempo a que o divino propriamente nem se subordina. O mundo então vem tendo a sua oportunidade de ser. Vem sendo bom de tudo um pouco, mas também vem sendo mal de todo um todo. E aos que o Eu assiste à batalha (assistir no sentido de presenciá-la) e também aos que o Eu assiste (tendo participação), dela gozam do amor de Deus, pelo Filho, todos em Deus, inexistentes, tal como Ele. Assim não seja!

DEUS ESPECIALISTA?

DEUS ESPECIALISTA?

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Dizer de Deus um especialista é mesmo persistir numa feição antropomórfica do divino, como que O atraindo para a conformação da realidade de homem, com a carne, os nervos, os músculos, os ossos em prevalência. Isto representa, em senda religiosa, a condição análoga à dos anás e à dos caifaz e, na senda civil e militar, à dos herodes e à dos pilatos; àqueles, enquanto pretensiosos aprisionadores do divino e, a estes, os dominantes de dominados, na cobrança, a contragosto, do salgado imposto, em tempos ditos de paz, ou os das armas que matam, nos tempos ditos de guerra, convindo ainda esclarecer que os personagens referidos alcançam todos os tempos de um curso da História e não apenas ao de suas reais existências singulares de um certo e determinado período dela. Então, fazer Deus como um especialista é conformá-Lo a um grandioso painel de tantas ações Dele como um restaurador de situações periclitantes de vida. Tudo isso porque, no lugar de especialista, se olvida o não-ser essencial Dele e Nele e por Ele e para Ele. Deus não é o essencial sempre amor, crucificado na existência a que se entregou, por imperscrutável desígnio, como amorosa resposta sobretudo ao anjo que O assistia, Lúcifer, tanto que o fez existido, igualmente, na existência de Sua epifania. Esse o maldito que é em mim como nos existidos todos e ainda por existirem, inclusive em sua carne, leitor, como na dos seus descendentes. Apesar de existido como na expressão corajosa de Paulo, in Romanos 7, 14-25, o Mal não perde a condição de ente do céu e é nela, na tal condição, que o combate espiritual acontece para o Eu em meu pobre mim, para o Eu em teu pobre ti, leitor, por divina e exclusiva vontade; sabido e consabido sendo como já acontecido o tal combate para com o Eu em Jesus de Nazaré. Perante o Cristo, Filho Amado, o Mal pobremente armado com arma que só atinge até os calcanhares, terminou preso com a vitoria ocorrida precisamente no segundo e mais importante jardim, o de Getsêmani. Ali, o consumatum est se distancia, e muito, do Gólgota; este, um painel de perversidade dos homens, aquele, a prevalecente vontade do divino: “Não seja feita a minha mas a tua vontade, Pai”. Então, as passagens bíblicas sobre abraão, hagar, ismael, sara, isaque, jacó, os doze filhos deste, em especial judá, levi e josé, moisés, josué, sansão, samuel, davi, salomão, daniel, ezequiel, jeremias, elias, joão batista, jesus, pedro, joão, estêvão, paulo… basta, basta e basta. Todos restaurados mediante um especialista? O especialista Deus? Mas, a batalha, a do céu, sendo entre entes celestes, a saber, Lúcifer versus Miguel (este que é propriamente o Cristo), a da terra também se processa entre entes como tais, conquanto existidos, epifanizados. E justamente após a batalha do céu, Lúcifer, como perdedor, ele junto com um terço de outros anjos, foi precipitado por Deus para a terra do mundo criado, num evidente gesto de divinal amor, já que, acaso se admitisse a cobrança de despojos por parte de Deus, isto seria afrontosamente contrário à Sua amorosa e divinal essência, evidentemente. Não é, pois, uma galeria de nomes que se há de sobrelevar, pois a batalha continua entre entes celestiais, conquanto existidos, desculpem a repetição, mas em espirito, de espirito, por espírito. D-Eus, aparente diversidade, de Eus (D + Eu + Eu + Eu = D-Eus) perfaz-Se na unidade de Eu-espírito, este a “cereja do bolo” em disputa, pois Satanás, de um lado, manifesto, arrosta-se em direito de ter como sua a carne habitada de Eu, mas Deus, pelo filho Amado, detém arma que fere cabeça. E tal como já acontecido com o Eu em Jesus de Nazaré, por divino amor, o Eu no meu pobre mim e o Eu no teu pobre ti, leitor, também se operam salvos com prisão de Satanás, até que se consumam os séculos. Deus, então, vencendo a Sua própria crucificação de existência existida… enfim inexistida, gloriosa!