DEUS SEM COISAS

DEUS SEM COISAS

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

Comer do pão e beber do vinho, o pão sendo a carne e o vinho sendo o sangue. Isto é o resumo de uma estratégia, a estratégia de Satanás. Porque é preciso bem situar a construção dessa estratégia. Veja-se como no antigo testamento, no livro de Levítico, foi feita a edificação, em torno do que se exigia como sacrifícios que agradassem a Deus. Esses sacrifícios vinham por meio da morte de animais; portanto, com o derramamento de sangue. Depois, apareceu um profeta (Isaías), falando de um homem das dores, desprezado, e que o cristianismo tomou para si este homem das dores e desprezado como sendo Jesus de Nazaré. E então foi feita a inversão: o Levítico não passou mais a valer; no seu lugar, para o cristianismo, ficou valendo o livro dedicado aos Hebreus, escrito por Paulo. Tudo isso advém do que é pegajoso, a coisa, coisa, coisa, sempre coisa, a insistência do homem, no sentido não de prender, mas de apreender, de tomar para si um comando que, espiritualmente falando, ele jamais poderá ser proprietário daquilo que vem do espírito, que é emanação do espírito. Portanto, não tem que se associar à questão do pão e do vinho, o pão que se come e o vinho que se bebe, a carne e o sangue como de uma pessoa que tenha morrido e que se come de sua carne e que se bebe do seu sangue. Essa associação é demoníaca, tem tudo a ver com Satã. O judeu Saulo, que depois se tornou o romano Paulo, no embate com o judaísmo, inclusive se chocando com Pedro que teimava numa circuncisão de carne, terminou fazendo prevalecer (e nisto terminaram concordando Pedro e todo o apostolado cristão) que a verdadeira circuncisão era a do coração. Foi a primeira vitória de Paulo em direção à internacionalização do cristianismo. Neste ponto ele estava certo, pois a essência do cristo não era uma exclusividade para judeus. E fez mais, muito mais, mas fez o pior, a associação com a estratégia de Satanás, nessa estória de se comer pão como carne e se tomar vinho como sangue de um homem morto, Jesus de Nazaré, que absurdo! Tudo isso como uma influência de criação humana, de coisa do mundo, algo visível, tangível, a necessidade de coisificar o que já é coisa em si próprio, o homem gênero, essa montanha de músculos, de nervos, de carne, de ossos, presença de importância central no conjunto de homens com o nome de sociedade, pois, como coisas, não se largam da condição de anás ou de caifaz, na senda religiosa, ou da condição de herodes ou de pilatos, nos tempos ditos de paz onde o contragosto sempre se torna no consoante imposto. Naquela senda religiosa, o embate se dá na tola pretensão de aprisionamento de Deus. Pois, no cristianismo, fazem prevalecer a coisa daquela associação maldita do comer e do beber com a carne e com o sangue de um homem morto, homem morto, realmente desprezado, homem das dores, isto por um querer humano, nunca por um querer divino. O querer lastimável do homem, pobre homem, precisado, auto-precisado de um referencial, uma pedra, a igreja de pedra de todos os tempos e lugares, lugar antes chamado de templo, lugar de sacrifício de animais como paga dos pecados cometidos, para judeus, mas agora, para o cristão, lugar de memorial de um sacrifício apenas, o de um homem-homem, cujo traço divino, nele, enquanto nervos e músculos e carne e ossos, por ser aquele traço de Deus, não se pode matá-lo, não se pode sacrificá-lo, não se pode crucificá-lo. Ainda assim, a teima por um referencial da coisa terminou em coisa, um pedaço de massa de trigo muito fina chamada hóstia… Hoje em dia, judeus não mais matam animais em rituais de sacrifícios. Isto foi no tempo das tendas, no deserto e, depois, nos templos. Com as destruições destes, restam-lhes muralhas, numa das quais se fazem, ainda hoje, penitências e lamentações. Além disso, reúnem-se em sinagogas ou tabernáculos. E persistem em marcha na busca de um salvador que chamam de Messias. Este Messias, para o cristianismo, já veio uma vez e teria sido o homem rejeitado e o desprezado, em meio a dores, Jesus de Nazaré, morto em sacrifício salvador da humanidade, com promessa de voltar, para esta humanidade lhe prestar contas, em julgamento final. Mas, morte vicária, não, não e não: “Mt 26.26 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo; Mt 26.27 E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Mt 26.28 pois isto é o meu sangue, o sangue do pacto, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados; Mt 26.29 Mas digo-vos que desde agora não mais beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco o beba novo, no reino de meu Pai; Mc 14.22 Enquanto comiam, Jesus tomou pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, dizendo: Tomai; isto é o meu corpo; Mc 14.23 E tomando um cálice, rendeu graças e deu-lho; e todos beberam dele; Mc 14.24 E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do pacto, que por muitos é derramado; Mc 14.25 Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus; Lc 22.17 Então havendo recebido um cálice, e tendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós; Lc 22.18 porque vos digo que desde agora não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus; Lc 22.19 E tomando pão, e havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim; Lc 22.20 Semelhantemente, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é derramado por vós; Jo 6.48 Eu sou o pão da vida; Jo 6.49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram; Jo 6.50 Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra; Jo 6.51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne; Jo 6.52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?; Jo 6.53 Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos; Jo 6.54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia; Jo 6.55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida; Jo 6.56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele; Jo 6.57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim; Jo 6.58 Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre; Jo 6.59 Estas coisas falou Jesus quando ensinava na sinagoga em Cafarnaum. MUITOS DISCÍPULOS ABANDONAM A JESUS Jo 6.60 Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?; Jo 6.61 Mas, sabendo Jesus em si mesmo que murmuravam disto os seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza?; Jo 6.62 Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?; Jo 6.63 O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida”. O grande incompreendido – Jesus de Nazaré – terminou sofrendo a pena da morte (física), numa humilhação realmente muito maior do que a humilhação a que se permitiram a própria Divindade e o seu próprio filho unigênito – o Cristo. Esse clima de sangue em cima do qual se erigiu a Eucaristia é o que existe de mais errado e enganoso. A construção religiosa encontrou nesse clima o sentido de apelação, em que, como pano de fundo, aparece a figura, o arquétipo que provocativamente se põe a nos interrogar, constantemente: “és capaz de suportar tudo isso que suportei?” Sem sermos Judas Iscariotes – precisamente aquele personagem que abominou a condição “crística” de Jesus de Nazaré – devemos também abominar esse sentido apelativo, pois jamais se deveria priorizar essa cena de sangue e se deixar em plano secundário a joia preciosa que foi, é e será, sempre, a eterna lição de Jesus, entregando-se e vencendo o mundo, enquanto vivo ainda estava! Ele tanto disse aos seus contemporâneos que abominava o sacrifício e que, no seu lugar, pretendia a misericórdia, não para salvar justos, mas para salvar pecadores. E foi assim que ele proclamou, pulsando-lhe ainda o sangue nas veias de “vivo-de-uma-vida-gloriosa”, que vencera o mundo. Depois dessa sua proclamação é que veio esse desastre que ele previu (previsão que não lhe foi difícil como difícil não é para qualquer homem de entendimento médio) e que não tinha como fugir da consciência da importância divina do seu papel; tanto que foi até o fim na sua entrega de “vivo-já-morto” por ter vencido o mundo e que, por isso, sua morte física, operada de forma tão cruel e criminosa, não foi sentida; expirou consciente, sem lhe perturbar as sombras dessa morte física, a ela submetendo-se por pouco tempo, para, após três dias, consumar aquela ressurreição que iniciara quando suplantou as tentações no deserto! Abomine você também, leitor, sem o risco de ser um Judas Iscariotes, essa associação de cena de sangue com Eucaristia. Esse epílogo de tamanha importância para o Cristianismo é, lamentavelmente, a prioridade que se dá ao sentido vicário de uma morte, ou seja, que ela se haja operado por um homem no lugar da morte de todos os demais homens. Isto é puríssimo egoísmo, já que, com essa condição vicária, se deixa todos esses demais homens na condição de um conforto quanto a nenhum sacrifício deverem ter de suportar! Essa cena de sangue tem a ver com nossa condição humana, condição essa que, embora permitida pela Divindade, nos foi deixada como porta aberta, por via de um arbítrio livre do homem, para se não ver restringido em sua majestade de criação excelente dessa mesma Divindade criadora, para poder, então, ter a liberdade plena de escolha. Pois, no caso do sistema religioso, a opção, lamentavelmente, foi pelo lado pior – aquele que realça a condição fraca de carne, preferindo-se colocar o Filho de Maria como o único a suportar as dores das chibatadas, dos cravos, da asfixia na cruz, para nos aliviar de tantos pesares. Que lástima! A associação feita pelos Apóstolos, pelos  Evangelistas e pelos Doutores da Igreja entre o Calvário e a doação de Jesus necessita então dessa explicação, para que se furtem os homens desse cenário de sangue, pois não se deve nunca ter em mente o Jesus sacrificado como aquele que veio substituir os touros sacrificados do Antigo Testamento. Não é esse o sacrifício a que se reportou o Divino Mestre. Aliás, ele não priorizou sacrifício algum; muito pelo contrário, ele o abominou, quando, aplicando a dimensão de uma alma livre de amarras terrenas, como a sua, repetiu o Profeta Oseias: “Não quero sofrimento, mas misericórdia e o conhecimento de Deus” – Cap. 6, v. 6. Portanto, o Nazareno fez transmitir por Lucas (cf. Cap. 22, v. 19) o verdadeiro sentido de sua última ceia, qual seja o de que de tal modo se fizesse tão somente para celebrar a sua memória, a sua lembrança, nada mais em termos de importância do que isso; jamais que a sua carne “de homem” e o seu sangue “de homem” pudessem ser comidos e ser bebidos, mesmo que representativamente, como meio de salvação. Valha, pois, como síntese de tudo em torno de uma última ceia, o que está posto em João, Cap. 6, v. 63: “a carne para nada aproveita”; as palavras que ele Jesus quis transmitir aos discípulos são aquelas que se constituem em espírito e vida, necessariamente nesta ordem: espírito e vida; não vida e espírito.  Desvencilhem-se os homens dessa prisão de sofrimento e se deem por completo à misericórdia (cf. Oseias, Cap. 6, v. 6 e Mateus, Cap. 13, 9), mediante a qual possam olhar para o rastro da caminhada de sua páscoa (passagem) e, à semelhança daquilo que é querido e desejado por Jesus, terem para si mesmos a resposta de Deus quanto a não terem sido em vão os talentos com os quais viemos todos a este mundo: sim, o eu fez para o pobre; sim, o eu fez para o preso; sim, o eu fez para o doente; sim, o eu fez para o nu; sim, o eu fez para o faminto; sim, o eu fez para o sedento e tudo isso assim fez o eu não para mim, mas para o grande reencontro desse eu do meu pobre mim com a gloriosa Divindade! E assim, leitor, se deixe invadir da sensação “crística”, tão mais reconfortante do que a do que lhe pode dispensar a sensação do ser cristão, pois como acerca deste se apregoa, basta que eu veja em Jesus simplesmente aquele que sofreu no lugar de mim. E a parte de cada um, como responsabilidade individual que assim deve ser, onde fica? (Jeremias, Cap. 31, vs. 29 e 30 e Ezequiel, Cap. 18, vs. 2, 3 e 4)  Seja você, leitor, um “crístico”, pois assim, ao invés de todos os dias recolocar, você estará retirando da cruz o Filho de José e de Maria, pois as mãos criminosas dos anás, dos caifaz, dos herodes, dos pilatos de hoje ainda teimam em lhe manter o sacrifício. Ora, sem realçar a condição humana de coisa, porém sob uma capa que se impõem com e como santidade, no curso dos séculos e milênios, os homens que reunidos se tornam sociedade, algo mais do que coisa, exterior, prosseguem vestidos, melhor dizer travestidos, quando não em roupas de herodes, de pilatos, quando não em roupas de anás, de caifaz, imbuídos, como dominantes, perante um mar de dominados, numa atitude de mando, a demonstrar, em constância, a realidade final de coisa, de coisa, de coisa, que as são; os primeiros citados, em tempos ditos de paz, na cobrança, a contragosto, do imposto; em tempos ditos de guerra, com as armas que ferem e que matam; os últimos citados, na santidade que se dizem metidos no afã de terem a Deus como prisioneiro seus, que presunçosos! E haja, no cristianismo, aquele ato de comer carne morta e sangue de morto, como memorial da estória de um sacrifício humano de humanos de uma instância que são eles mesmos e que é deles essa instância, exclusivamente, e nunca de Deus-Amor. Deus-Amor, por ser assim, sempre Amor, inquestionavelmente Amor, inclusive, por, no lugar de despojar, ter permitido a precipitação de Lúcifer, anjo que o assistia, no céu, ter permitido – vínhamos dizendo – a precipitação de Lúcifer a terra do mundo por ele Deus criado. Pois o tal anjo, em guerra, veio a perdê-la para o arcanjo Miguel, este nada mais do que propriamente o Filho de Deus. Desde então, o estado antagônico persiste, pois o Lúcifer, na terra, invadiu, à socapa, o delicioso jardim onde Deus se fez depositar no Eu encarnado nos primeiros pais, Adão e Eva. E Lúcifer, travestido de serpente falante os enganou. Que pecado do Eu! Este Eu que foi em Adão e em Eva, num jardim primevo, inocentes, no plural. Sim, plural de uma diversidade de carne, de músculos, de nervos, de ossos, em Adãos e em Evas que continuam no imenso derredor daquele jardim e que persistem em dominados de dominantes do tal derredor, que é enfim este mundo. Este mundo, onde a minha e a tua carne, e os meus e os teus nervos e os meus e os teus músculos e os meus e os teus ossos, leitores, leitoras, submetidos, enquanto tais, ao mal comprovado em Jó, 1, 7, ao mal comprovado em Romanos, 7, 14-25, ao mal comprovado em 1ª Pedro, 5, 8, e enfim ao mal comprovado em 1ª João, 5, 19, parte final, teimam e teimam e teimam em coisas, coisas e coisas, tanto que, se não bastasse a associação a carne e a vinho por pão e sangue, respectivamente, se regalam em coisificar, coisificar, coisificar: BATISMO:  Matéria – água; CRISMA: Matéria – o óleo sagrado chamado Santo Crisma; EUCARISTIA: Matéria – O pão e o vinho; CONFISSÃO: Matéria – os pecados; EXTREMA UNÇÃO: Matéria – O óleo sagrado chamado Óleo dos Enfermos; ORDEM: Matéria – a imposição das mãos;  MATRIMÔNIO: Matéria – O contrato entre os noivos. Então, fixando-nos no sacramento da Eucaristia, este vitimado da terrível associação com o que é nítida estratégia de Satanás, fruto de uma violência nunca querida nem desejada pela Divindade, que é só Amor, cada vez mais o homem-coisa se atola e se atola em coisas, em coisas, às mais diversas; é água, é óleo, é pão, é vinho, é imposição de mãos, é contrato e por aqui não ficamos. Temos, ainda, por exemplo, o incensório, que é coisa em si mesmo, sua fumaça tida como as orações dos homens subindo aos céus. E muitas outras significações mais. Enfim, olvida-se a real realidade de homem-coisa, provado e comprovado pela essência de mal que lhe é intrínseco (Romanos, 7. 14-25), além daquelas que o acompanham, invariavelmente (1ª Pedro, 5, 8 e 1ª João, 5, 19, parte final), e se põem, apesar disso, com a capa de proteção de uma santidade que se atribuem. Por isso que são tantos os herodes e os pilatos, e os anás e os caifaz, enganando-se todos, sem exceção, com o comando de uma vontade própria, de homem, com o seu deus amarrado ao seu humano jeito. Tudo isso como fruto da medonha estratégia de Satanás, da qual só se livra o Eu em mim e o Eu em ti, leitores, leitoras, a despeito da diversidade dos Adãos e das Evas deste mundo, em montanhas de carne, de músculos, de nervos, de ossos de um imenso derredor de delicioso jardim, derredor esse que é este mundo de tantas ciladas, de tantas incertezas. Porque é lamentável a ânsia persistente em torno da maldita estratégia. Cuidando dela, até sem se darem conta da pretensão final dela, nomes de peso em linha religiosa de um Isaías, de um Pedro, de um Paulo e até mesmo de um jovem nazareno, terminaram envolvidos em suas teias pegajosas de um caldo grosso de violência. Aliás, essa ideia de violência envolvente vem de longe, vem daquele passeio no éden, durante a viração da tarde, quando Deus indagou a Adão e a Eva por que pecaram. Eles, com o pecado, sentiram-se nus e tinham o corpo coberto por folhas de figueira. E logo se lhes providenciou um vestuário de couro; portanto, o sacrifício de animal deu lugar ao couro da tal vestimenta. Não se há de imputar a Deus-Amor a morte desse animal, por certo. Mas àquele decorrente do mal no próprio Eu agasalhado em pecado, por obra de Lúcifer tornado Satanás em serpente falante. Pois exatamente esse deus com letra inicial minúscula é o de que trata o livro de Êxodo, no Capítulo 20, versículo 5; o deus zeloso, que visita a iniquidade dos pais nos filhos. Já o Deus verdadeiro, com letra inicial maiúscula, é o Deus da Misericórdia, do Amor, referido no mesmo livro e capítulo, no versículo 6; confira-se, então. Pois aquele deus da violência cometida contra um animal vem em torno de si atraindo todos quantos se inclinam para isto, na ideia religiosa violenta do judaísmo e do cristianismo. Estão todos num único e mesmo barco, influenciados por essa ideia-matriz. E o ponto culminante para ele mergulhado, contudo, em mera ilusão, é a imagem de sua risada sarcástica, enquanto traz, à mão, um balde contendo o sangue de um inocente, colhido ao pé de um cruz do seu sacrifício… Então, Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam ações como a do bom samaritano (Lucas, 10, 30-37); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, por suas mãos, se dispõem a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam a determinação de retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se aceitam sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam a ordem e lançam suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, de fugitivos, aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo,  encarnam os que se reconhecem com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se comportam como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)… Enfim, sem coisa, sem pedra, sem igreja, o Eu se integra a Deus. E a carne? Que jamais saiba ela, por vontade própria, sua, que cruzes de estratégia de Satanás possam lhes ser aliviadas na passagem deste e neste mundo…

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Você, leitor religioso, leitora religiosa, se ofendeu, de alguma forma, com o texto que acabou de ler? Sinta-se assim, não, pois acredito que você não se classifica, por vontade exclusivamente sua, na classe dos que se consideram santos; simples assim. 

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