CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

A criação do homem-gênero (macho e fêmea) e a sua projeção na vida como um-vivo-dessa-vida (vida abundante), precisamente aquela criação sob proteção paradisíaca-natural e a simplesmente natural, arrolam-se na expressão do “e viu Deus que tudo quanto criado era bom”. E a de proteção paradisíaca também era (e continua) natural, não custa reforçar o que já ficou dito. Como bem se pode ver, a primeira referência à criação do ser humano está em Gênesis, no Capítulo 1, com a determinação do “crescei e multiplicai’; portanto, de ordem natural essa criação, onde todos, como reprodutores, nascem com dores de parto da respectiva genitora e todos comem com o suor do rosto. Veja-se o referido capítulo, precisamente os versículos 26 a 31. Necessário ressaltar que, neles, não há referência a proteção, por meio de um jardim de delicias, chamado Éden. A referência seguinte está em Gênesis, no Capítulo 2, versículos, 7, 8, 15, onde se trata da criação do homem, tanto natural, quanto de proteção paradisíaca. A necessidade dessa observação aparece como única a poder explicar o fato de Caim ter encontrado pessoas estranhas ao enredo de uma vida edênica e de uma vida extra-edênica; aquela, de um casal e esta, do mesmo casal, além dos seus três filhos, isto tudo após a desobediência do referido casal e sua consequente expulsão do ambiente edênico de proteção. Com tal expulsão, perderam a proteção, conquanto também tivessem o lado natural.  As tais criações foram decorrentes do “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, no pós-guerra celestial, já então sob a epifania, epifania decorrente, por sua vez, dos vários e sequenciais “fiats”. Veja-se que todas elas já “carimbadas” com a possibilidade de maldição, porque, criado o mundo, para este mesmo mundo Deus fez precipitar tanto a Lúcifer quanto a uma falange de anjos, que o seguia (Apocalipse, 12, 9, parte final, 1ª João, 5, 19, parte final e Jó, 1, 7), perdedores daquela guerra celestial retro aludida. Apenas à de proteção paradisíaca lhe foi dado esse tratamento especial, sem deixar de ser natural – isto já foi dito mas não custa repetir mais outra vez. A todas, portanto, uma liberdade fazia-as tendentes tanto à qualificação de bom (da parte de Deus) como ao mal precipitado à terra e inerente a Lúcifer, como assim à falange que o seguia, no céu, e que assim prosseguem, na terra, tanto aquele como estes; aquele, desde que tempo é tempo, sob a variada denominação de satanás, de diabo, de diacho, de coisa ruim etc.. Enquanto isso, aos dois expulsos do jardim, pouco lhes contrapôs o desapontamento do Senhor, ante a desobediência cometida por eles como casal inocente, eis que a estes e à respectiva descendência, em espírito, de espírito, por espírito, uma determinação eficaz foi gesto de amor-essência, tal como amor-essência tinha sido a decisão de não somente criá-los, mas necessariamente protegê-los. Então, a proteção foi substituída pela determinação. A delícia perdida por motivo de uma desobediência, substituiu-a a tal determinação, segundo a qual o mal pode ferir até o calcanhar, contudo o de calcanhar ferido pode e efetivamente fere a cabeça de quem é mal (Gênesis, 3, 15). A criação natural, precisamente a que foi encontrada por Caim, quando condenado a errar pelo mundo, após o episódio criminoso do fratricídio cometido (por uma questão de culto a Deus), também é passível de maldição e desvestida de mínima proteção; a criação à qual se juntou Set, terceiro filho dos expulsos do paraíso, também, mas ele propriamente, como o próprio Caim, não, pois protegidos daquela determinação; tanto que o dilúvio teve por fim eliminá-las, porém com as exceções que sabemos. Há quem diga que nem essas exceções estariam previstas. Mas o plano ressalvou uma família inteira, de pai, mãe, filhos e noras, numa arca. Não havia filhas nessa família, mas filhos. As noras, portanto, já teriam advindo da criação natural. De igual sorte a mulher do homem. E o homem não é? Não, porque, de não é para Noé (eita, língua portuguesa!), se demonstra que este, a rigor, não seria somente de criação natural, mas propriamente da descendência dos expulsos do paraíso, privilegiados da já mencionada determinação. Como sabido, o selo de proteção dos protegidos do Éden se diluiu com a desobediência. E seus protegidos, de benditos, tornaram-se tão malditos quanto os naturais da estirpe encontrada por Caim, fundador da primeira cidade de que se tem notícia – a cidade de Nod. Todos, pois, à exceção do casal privilegiado de delícias, nascidos com as dores do parto de suas genitoras e todos, inclusive o dito casal, comendo o pão com o suor do rosto. Esse privilégio de um casal com único propósito de servir a Deus – tanto que o selo de proteção abrangia a condição de infertilidade – veio a torná-lo o único expulso do paraíso, por causa da tão sabida enorme desobediência. E dois dos filhos dos expulsos do paraíso somam-se aos naturais, malditos, que a  limpeza de um dilúvio, igualmente em relação aos familiares dos dois ex-protegidos, os tornam os piores de hoje e de muitas gerações anteriores a esses ditos e tidos de hoje, que tristeza! Para a descendência dos dois expulsos nem tanto, já que a determinação deixou de sê-la (determinação) numa cruz de ser-viço e de plena obediência, por meio de um ser de carne. Ou seja, aquela batalha espiritual, no céu, entre o Filho de Deus, Filho que é o mesmo que o arcanjo Miguel, e o anjo Lúcifer (portanto entes celestes), transporta-se, para a terra, porém permanecendo (a dita batalha) entre entes celestiais, enquanto o lado da criação natural, o dos porcos (!), na lama dos herodes e dos pilatos, dominantes e dominados, não causam decepção alguma, perante Deus-criador, pois com o mal neles entranhado, de decorrência, era de esperar que fossem como são (Romanos, 7, 14-25), inclusive, na órbita religiosa, enquanto pretensiosos aprisionadores de deus, nome este grafado assim mesmo com letra inicial minúscula de suas fraquezas de carne. Desta estirpe somos todos nós, em carne, em músculos, em nervos, em ossos, contudo ainda privilegiados, como os da descendência dos expulsos, da residência do eu-divino no si de cada um, porém extravagantemente expostos às fraquezas daquela carne, daqueles músculos, daqueles nervos, daqueles ossos. Ao Filho, vencedor no céu, na batalha, na terra, se Lhe conferiu arma que fere cabeça, enquanto que o Mal a sua arma não permite ferir senão até à altura do calcanhar. Isto, contudo, é o que se não confunde com criação, conquanto esta se faça como necessidade de ser, de ex-istir,  para todo o criado poder assistir o amor-essência atuar em favor do eu, mesmo ferido o calcanhar desse ser, porém a cabeça do Mal atingida em cheio, deixando-o preso até a consumação deste século… E, apesar desse quadro horrendo de herodes e de pilatos, no curso de milênios, onde todos se impõem contra todos, dominantes e dominados, a contragosto, com o salgado imposto, naturais outros, quais anás e caifaz, se impõem como dignos representantes de Deus. Mas, mesmo num quadro como este, querendo Deus, na tal batalha, em terra, por amor-essência, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam ações como a do bom samaritano (Lucas, 10, 30-37); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, por suas mãos, se dispõem a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam a determinação de retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se aceitam sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam a ordem e lançam suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, de fugitivos, aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo,  encarnam os que se reconhecem com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se comportam como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)…

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