UMA PROJEÇÃO MORTÍFERA

 

UMA PROJEÇÃO MORTÍFERA

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos) 

A projeção do tempo foi (e continua sendo) veneno terrível, a alimentar a visão canhestra que os homens tiveram e ainda continuam tendo, primeiro a primazia a um eu-personal, depois, a ambição de posse de terra, evidenciando, destarte, flagrante desobediência ao comando divino derramado sobre abrão. Até que se entende que este tenha assim consumado o intento divino, saindo de terra e de parentela, porém o histórico que se fez prevalecer foi o da existência de uma terra de verdade como terra, distante, onde se nasceu e se viveu e dela se saiu para se instalar em outra distante daquela – uma terra onde mana leite e mel… Essa projeção temporal foi seguindo, foi seguindo, até os dias e os últimos momentos desse hoje que todos os vivos da vida abundante vivemos. Nessa lógica, torna-se vã a visão correta, a visão consoante com a visão divina, por meio de um homem encarnando o divino, como Filho deste divino. É que, em sua vida e missão, Ele efetivamente saiu da terra e da parentela que o faziam do mundo, correspondendo ao dizer do Gênesis sobre o sair da terra e da parentela a sua seguinte assertiva que se pode ler em Lucas, Capítulo 14, versículo 26: “Se alguém deseja seguir-me e ama a seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs (parentela), e até mesmo a sua própria vida (terra) mais do que a mim, não pode ser meu discípulo”. Os homens e mulheres de hoje, e não se pode ter noção de quantos dos anos seguintes em quantidade de muito mais ainda, perdurarão na cegueira de sua parentela e de suas terras, verdadeiras amarras a cegá-los, caindo todos na mesma cova que os tornam apegados a um deus, deus grafado assim mesmo com letra inicial minúscula de suas ânsias de gorduras de egos inflados em eus-personais, ciosos de que possam ser o centro, enquanto terra, e também o centro, como parentela, assim olvidando o comando divino já explicado alhures. Se é o bramanismo e o budismo, fazem estes dos homens como os de posição sentada, perdidos em meditações; se é o islamismo, torna os homens em posição de submissos; se é o judaísmo, são os homens em posição de marcha numa incessante busca por um messias; se é o cristianismo, a posição ereta de quem, deitado da morte, se alevanta para uma ressurreição. Todavia, não se largam, em nenhuma dessas orientações religiosas, seja da terra, que são, seja da parentela, que têm. Até quando, tempo? Até quando? Se o cristianismo é a afirmação de um mundo de terra e de parentela que passa pela negação desse mesmo mundo de terra e de parentela, as palavras de Jesus, segundo Lucas, conforme transcrita, se perdem no emaranhado de um apego a amarras do mundo que sempre fica na contramão de qualquer negação delas. Também o negar não há de se restringir ao completo abandono e negação delas. Seria uma convivência, um sentido de pé no chão, sabido que ambas são as responsáveis pelo ser, ou seja, a encarnação é necessária tanto como terra como parentela. No entanto, por ser imprescindíveis por si mesmas, imprescindíveis se tornam igualmente como elementos necessários à compreensão do não-ser de uma ressurreição. Umas hão de estar atreladas a outras, ainda que provisoriamente, como importância passageira, jamais como importância final.

CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

CRIAÇÃO VERSUS SALVAÇÃO

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

A criação do homem-gênero (macho e fêmea) e a sua projeção na vida como um-vivo-dessa-vida (vida abundante), precisamente aquela criação sob proteção paradisíaca-natural e a simplesmente natural, arrolam-se na expressão do “e viu Deus que tudo quanto criado era bom”. E a de proteção paradisíaca também era (e continua) natural, não custa reforçar o que já ficou dito. Como bem se pode ver, a primeira referência à criação do ser humano está em Gênesis, no Capítulo 1, com a determinação do “crescei e multiplicai’; portanto, de ordem natural essa criação, onde todos, como reprodutores, nascem com dores de parto da respectiva genitora e todos comem com o suor do rosto. Veja-se o referido capítulo, precisamente os versículos 26 a 31. Necessário ressaltar que, neles, não há referência a proteção, por meio de um jardim de delicias, chamado Éden. A referência seguinte está em Gênesis, no Capítulo 2, versículos, 7, 8, 15, onde se trata da criação do homem, tanto natural, quanto de proteção paradisíaca. A necessidade dessa observação aparece como única a poder explicar o fato de Caim ter encontrado pessoas estranhas ao enredo de uma vida edênica e de uma vida extra-edênica; aquela, de um casal e esta, do mesmo casal, além dos seus três filhos, isto tudo após a desobediência do referido casal e sua consequente expulsão do ambiente edênico de proteção. Com tal expulsão, perderam a proteção, conquanto também tivessem o lado natural.  As tais criações foram decorrentes do “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, no pós-guerra celestial, já então sob a epifania, epifania decorrente, por sua vez, dos vários e sequenciais “fiats”. Veja-se que todas elas já “carimbadas” com a possibilidade de maldição, porque, criado o mundo, para este mesmo mundo Deus fez precipitar tanto a Lúcifer quanto a uma falange de anjos, que o seguia (Apocalipse, 12, 9, parte final, 1ª João, 5, 19, parte final e Jó, 1, 7), perdedores daquela guerra celestial retro aludida. Apenas à de proteção paradisíaca lhe foi dado esse tratamento especial, sem deixar de ser natural – isto já foi dito mas não custa repetir mais outra vez. A todas, portanto, uma liberdade fazia-as tendentes tanto à qualificação de bom (da parte de Deus) como ao mal precipitado à terra e inerente a Lúcifer, como assim à falange que o seguia, no céu, e que assim prosseguem, na terra, tanto aquele como estes; aquele, desde que tempo é tempo, sob a variada denominação de satanás, de diabo, de diacho, de coisa ruim etc.. Enquanto isso, aos dois expulsos do jardim, pouco lhes contrapôs o desapontamento do Senhor, ante a desobediência cometida por eles como casal inocente, eis que a estes e à respectiva descendência, em espírito, de espírito, por espírito, uma determinação eficaz foi gesto de amor-essência, tal como amor-essência tinha sido a decisão de não somente criá-los, mas necessariamente protegê-los. Então, a proteção foi substituída pela determinação. A delícia perdida por motivo de uma desobediência, substituiu-a a tal determinação, segundo a qual o mal pode ferir até o calcanhar, contudo o de calcanhar ferido pode e efetivamente fere a cabeça de quem é mal (Gênesis, 3, 15). A criação natural, precisamente a que foi encontrada por Caim, quando condenado a errar pelo mundo, após o episódio criminoso do fratricídio cometido (por uma questão de culto a Deus), também é passível de maldição e desvestida de mínima proteção; a criação à qual se juntou Set, terceiro filho dos expulsos do paraíso, também, mas ele propriamente, como o próprio Caim, não, pois protegidos daquela determinação; tanto que o dilúvio teve por fim eliminá-las, porém com as exceções que sabemos. Há quem diga que nem essas exceções estariam previstas. Mas o plano ressalvou uma família inteira, de pai, mãe, filhos e noras, numa arca. Não havia filhas nessa família, mas filhos. As noras, portanto, já teriam advindo da criação natural. De igual sorte a mulher do homem. E o homem não é? Não, porque, de não é para Noé (eita, língua portuguesa!), se demonstra que este, a rigor, não seria somente de criação natural, mas propriamente da descendência dos expulsos do paraíso, privilegiados da já mencionada determinação. Como sabido, o selo de proteção dos protegidos do Éden se diluiu com a desobediência. E seus protegidos, de benditos, tornaram-se tão malditos quanto os naturais da estirpe encontrada por Caim, fundador da primeira cidade de que se tem notícia – a cidade de Nod. Todos, pois, à exceção do casal privilegiado de delícias, nascidos com as dores do parto de suas genitoras e todos, inclusive o dito casal, comendo o pão com o suor do rosto. Esse privilégio de um casal com único propósito de servir a Deus – tanto que o selo de proteção abrangia a condição de infertilidade – veio a torná-lo o único expulso do paraíso, por causa da tão sabida enorme desobediência. E dois dos filhos dos expulsos do paraíso somam-se aos naturais, malditos, que a  limpeza de um dilúvio, igualmente em relação aos familiares dos dois ex-protegidos, os tornam os piores de hoje e de muitas gerações anteriores a esses ditos e tidos de hoje, que tristeza! Para a descendência dos dois expulsos nem tanto, já que a determinação deixou de sê-la (determinação) numa cruz de ser-viço e de plena obediência, por meio de um ser de carne. Ou seja, aquela batalha espiritual, no céu, entre o Filho de Deus, Filho que é o mesmo que o arcanjo Miguel, e o anjo Lúcifer (portanto entes celestes), transporta-se, para a terra, porém permanecendo (a dita batalha) entre entes celestiais, enquanto o lado da criação natural, o dos porcos (!), na lama dos herodes e dos pilatos, dominantes e dominados, não causam decepção alguma, perante Deus-criador, pois com o mal neles entranhado, de decorrência, era de esperar que fossem como são (Romanos, 7, 14-25), inclusive, na órbita religiosa, enquanto pretensiosos aprisionadores de deus, nome este grafado assim mesmo com letra inicial minúscula de suas fraquezas de carne. Desta estirpe somos todos nós, em carne, em músculos, em nervos, em ossos, contudo ainda privilegiados, como os da descendência dos expulsos, da residência do eu-divino no si de cada um, porém extravagantemente expostos às fraquezas daquela carne, daqueles músculos, daqueles nervos, daqueles ossos. Ao Filho, vencedor no céu, na batalha, na terra, se Lhe conferiu arma que fere cabeça, enquanto que o Mal a sua arma não permite ferir senão até à altura do calcanhar. Isto, contudo, é o que se não confunde com criação, conquanto esta se faça como necessidade de ser, de ex-istir,  para todo o criado poder assistir o amor-essência atuar em favor do eu, mesmo ferido o calcanhar desse ser, porém a cabeça do Mal atingida em cheio, deixando-o preso até a consumação deste século… E, apesar desse quadro horrendo de herodes e de pilatos, no curso de milênios, onde todos se impõem contra todos, dominantes e dominados, a contragosto, com o salgado imposto, naturais outros, quais anás e caifaz, se impõem como dignos representantes de Deus. Mas, mesmo num quadro como este, querendo Deus, na tal batalha, em terra, por amor-essência, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam ações como a do bom samaritano (Lucas, 10, 30-37); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, por suas mãos, se dispõem a encher talhas que podem conter água que se transforma em vinho (João, 11, 1-12, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam a determinação de retirar pedra e abrir sepulcro de quem ali jaz morto há dias (João, 11, 39-44, especialmente os versículos 39 a 41); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se aceitam sucumbidos, pela própria força bruta aparentemente suicida, destruindo edificação inimiga e, com ela, os que nela se encontravam em diversões e zombarias (Juízes, Capítulo 13 e seguintes); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam a ordem e lançam suas redes de pesca à direita do barco (João, 21, versículos 1 a 6); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, de fugitivos, aceitam-se obedientes para falarem de Deus (Jonas, Capítulos 1, 2 e 3); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se deixam recriminar por um “vade retro, satanás”(Marcos, 8, versículos 27 a 33); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não precisam ver para crer (João, 20, versículos 26 a 29); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que adocicam, por meio de salmos, o coração devorado por violências e guerras (Salmos, de 1 a 150, apesar de 1 Samuel, Capítulo 18, versículos 25 a 27, apesar de 2Samuel, Capítulo 11, versículos 1 a 27 e muitos outros episódios violentos); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo,  encarnam os que se reconhecem com pecado e, por isso, nunca atiram nem a primeira, quanto mais tantas outras pedras (João, 8, versículos 2 a 11, especialmente o versículo 7); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam, mesmo após duvidar, por vezes, banharem-se em água prometida como de cura (2Reis, 5, versículos 1 a 14); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que são batizados, em água, de religiosos processos e que fazem diminuídas as tensões de maldades por respeito aos benéficos efeitos de chacras, em sua dimensão corpórea e psíquica (1Pedro, 3, versículo 21); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam levar de vencida o ego e esperam superar tentações (Mateus, 4, versículos 1 a 11); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que tentam conduzir-se por sendas bem-aventuradas (Mateus, 5, versículos 1 a 48); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que se comportam como ovelhas que aceitam pastores de lobos por eles pastores presos (João, 10, versículos 1 a 15); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que não se fazem pródigos, porque tentam uma vida de respeito aos estágios naturais dela (Lucas, 15, versículos 11 a 32); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que, ao darem uma esmola, tentam não permitirem anunciar, por trombetas, a satisfação do seu ego (Mateus, 6, versículo 2); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que aceitam não serem dignos de entrarem e cearem com Jesus (Apocalipse, 3, versículo 20); Deus querendo, o homem e a mulher, habitantes do imenso derredor do jardim primevo, encarnam os que consideram relevantes as ações (como está em Mateus, 25, versículo 35) em favor de quem tem fome (de todo tipo de fome), de quem tem sede (de todo o tipo de sede), de quem está nu (de todo o tipo de nudez), de quem está preso (de todo o tipo de prisão), de quem está doente (de todo o tipo de doença)…

VALIOSO NADA

VALIOSO NADA
(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos)

I

Nada me perturba.
Inquieto, investigo
seu poder de nada ser
e, mesmo assim,
perturbar-me.

II

Só mesmo o que não sou
para preenchê-lo
de nada de um nada
poderoso e essencial e eterno.

……….

Explicando, pelo próprio explicado, que o sou, tanto quanto o é e foram e serão tantos e quantos outros tantos, desde o princípio ao final-consumativo-escatológico, ou seja, do alfa ao ômega, do início ao fim. Tudo como epifania que é, manifestação de Quem não é, continuando este não sendo, como centro-estático-essencial, na manifestação imanente, periférico-dinâmico-acidental, presente sem corpo, pois Se não confunde com o corpo do tudo manifestado. Então, este que ora escreve é sem diferença alguma de quem já foi e de quem será. Privilegia-se, no entanto, pelo agora; pois dos outros (dos que foram) se fala em outrora; e dos outros (dos que deverão ser) se fala em porvir. Quem foi teve o seu agora e quem será pelo agora já passou. Tudo e todos dentro dessa lacuna de tempo entre princípio e fim. Dou-me, então, a investigar e rio de mim, desse mim atrevido, aventureiro. Sempre o somos assim, tanto este mim como o si de quem quer que seja, frutos da epifania divina. Aliás, o próprio aliás é também manifestação dessa epifania que fez tudo existir, inclusive o tal aliás. Por isso, o rio de mim ri-se de si mesmo, sem nenhum enquanto do e para o nada poderoso e essencial e eterno. Então, neste meu agora, como contraponto do nada (pois disto o nada se dispensa por não-ser), consente-se o Eu divino neste meu pobre mim no mesmo nada de inex-istência de D-Eus, nunca por uma vontade desse Eu (pois vítima de más influências de carne, por motivo de uma desobediência), consente-se o dito Eu – vinha dizendo – pela vontade exclusiva de amor de D-, destarte conjugando-se em D- + Eus de D-Eus! Isto tudo dito pouco importa ou nada importa ao nada, já que em nada subjugado a isto tudo ou a tudo isto; tudo isto de uma diversidade que neste agora o meu mim constata e se apaga ou, mesmo não apagado, outrem, em futuro, poderá dizê-lo igualmente, pouco importando isto tudo ou tudo isto ao prevalecente nada; nada em que cabe o Eu, pelo querer exclusivo de D-Eus! Valioso nada, então, preenchido pelo nada do Eu sempre unidade, a despeito de sua residência no meu mim como no si de tantos e de tantos e de tantos outros filhos de mulher. Ver-se, pois, na construção de um agora assim é ser partícipe da faina de silenciosa vontade, em infinito e em eterno amor de D-Eus!, sem necessidade de esforços humanos de Kyrie Eleison e de humanas investigações.

EUS RELIGADOS, INCOMPREENSÍVEIS PARA A CARNE

EUS RELIGADOS, INCOMPREENSÍVEIS PARA A CARNE

(Para iniciados e iniciandos, letras mortas para profanos) 

No mundo da religação com Deus, esta jamais será pela carne, pelos músculos, pelos ossos, pelos sentidos, pela imaginação ou pela memória. Tudo fica na dependência de Deus, ou seja, daquele que, essência, não há de se manifestar, enquanto centro-essencial-estático e que, por amor, no princípio, resolveu, em desígnio imperscrutável, resolveu – vínhamos dizendo – resolveu ser, resolveu ser periférico-dinâmico-acidental, sem, entretanto, refrear, ao menos, o seu não-ser estático-central-essencial. Aliás, num mistério nunca jamais passível de desvendar, em sede de celestial harmonia de anjos, arcanjos, querubins e serafins, e outras categorias mais, o véu ofuscante tocou o sentido do não-ser que, de centro-estático-essencial, se tornou surpreendentemente envolto em uma semente nunca contraposta ao bem, mas semente que é mal e que ofusca a luz por mais brilhante que seja a dos olhos não-periféricos-não-dinâmicos-não-acidentais. São olhos do sempre e do eterno que, mesmo assim, se tomaram de uma cegueira que ainda não seria periférica-dinâmica-acidental, porque essa dinamicidade, essa periferia e essa acidentalidade não encontrariam, como não encontraram nem poderiam mesmo encontrar o sentido de passageiro, de efêmero. Pois um anjo, de repente, perdeu a luz de seus olhos, e se deixou ofuscar e, de repente, estava enfileirado com outros anjos, uma falange, então, pronta para um estado de quebra que, enfim, se estabeleceu. E Deus, centro-estático-essencial, sem princípio ainda de manifestação de mundo, mundo dinâmico-periférico-acidental, junto com aquele que é Filho nunca criado, mas gerado dele Deus, unigênito, travou a famosa batalha no céu, da qual aquele anjo maldito saiu perdedor, e Deus, sendo, então, por seu querer, tempo do tempo, do princípio, com seu Fiat Lux, criou o mundo, precisamente o que é dinâmico-periférico-acidental. Ora vejamos que Deus, sempre em manifestação de amor, permanece centro-estático-essencial, porém permite a sua manifestação, a sua epifania, com a ex-istência, tudo enfim se fazendo com o seu poder e determinação, só mesmo se pode dizer que esse mundo, esse dinâmico-periférico-acidental se confunde com o tudo do mundo criado do e no princípio, inclusive a sadia compreensão do sair de uma terra e de uma parentela, compreendida em Abrãos que hão de se tornar em Abraãos. Pois a manifestação de Deus que deixa o próprio periférico-dinâmico-acidental em estado de estupefação é a sua complacência com a descida daquele anjo caído, precipitado que é no mundo desse mesmo periférico-dinâmico-acidental, porém aquele Filho, não que o contrapõe, mas se põe no céu, seria, como é, o único a poder combatê-lo nesse mesmo periférico-dinâmico-acidental, como efetivamente  o combate, e o vence, deveras, de sorte tal que o mantém preso na coleira dos tempos escatológicos. Importante é que se diga a esta altura que desde (?) a eternidade e a infinitude, que assim permanecem, pois, do contrário, eterna e infinita não poderiam sê-las. Permanecem centro-estático-essencial, a despeito de uma dinâmica-periférica-acidental, gozo da divina providência de Deus, como prova do seu amor, a sua criação, que só o seu Filho poderia salvá-la, como a salvou, melhor seria dizer que a tem por e como salva. A primeira Eva e o primeiro Adão não saíram da terra e nem da parentela, como os de sua descendência biológica, esta (parentela) que não tiveram, contudo, expulsos do paraíso em face de uma desobediência incômoda, outros adãos e outras evas habitantes do grandioso derredor daquele jardim chamado éden vêm se mantendo em sua terra e em sua parentela, das quais não conseguem se desgarrar. Nem mesmo um povo a quem se deveria ter como os efetivamente saídos de uma terra e de uma sua parentela, esses é que permanecem a elas agarrados, e só a vontade e a determinação de Deus é que pode fazê-los saídos tanto de uma como de outra. Eles somente, não, quem quer que seja de qualquer um outro povo. Pois bem. Deus nunca se ausentou, nunca se afastou, ele é presença, seja no céu, central-estático-essencial, seja na terra, periférica-dinâmica-acidental. E é neste seu sentido periférico-dinâmico-acidental que se evolve, envolve e se desenvolve e se revolve em redemoinhos incompreensíveis de providências divinas, e, por divinas, jamais compreensíveis ao limite limitado da reles compreensão dos adãos e das evas, aqueles e estas criaturas, limitadas, porém, ainda bem, veículos do indimensionável estado de centro-estatístico-essencial que uma cegueira de anjo do mal teima em continuar impossibilitando, enquanto simples adãos e simples evas, continuar impossibilitando – dizíamos – o alcançe do divino que nunca deixaram de carregar em si mesmos, como veículos. E isso tudo que vem sendo dito é fruto de esforço de uma mente finita, obviamente, que, coitada, nunca chegará, por si, ao centro-essencial-estático, a este só Ele mesmo, Deus, por permissão Dele, é que se vai obtendo, aqui, acolá, alguma luminosidade, que vai tornando possível a religação, mas a religação nunca do periférico-dinâmico-acidental, com o essencial-central-estático, e, sim, religação do eu-navegante naquele e daquele veículo periférico-dinâmico-acidental. Só este eu dialoga com o central-estático-essencial, pois tanto este como aquele perenizam-se no eterno e no infinito. E nunca seria preciso dizer assim para que assim fossem, (sejam, são, seriam, serão ou foram ou tenham sido)… eterno… infinito. Eterno, infinito, basta assim dizer, e abarcar o que a pobre capacidade humana não pode eternizar nem infinitizar. Nesse sentido, o centro-estático-essencial, eterno, infinito, pereniza-se no periférico-dinâmico-acidental, de sorte que os adãos e as evas de todos os tempos, presente, passado e futuro, adãos e evas que a vontade de Deus os quis separados, santos, não têm história, não abarcam o telúrico, senão acidentalmente, porque essencialmente os põem em complacência com o infinito e o eterno. Logo, é preciso se ter em conta que o eterno e o infinito, nunca sendo possível que deixem de sê-los, tudo quanto é de santo, de separado, eterno é, infinito é, eternos são, infinitos são. Então, eternos e infinitos assim permanecem, como assim Deus, centro-estático-essencial. Essa “categoria”, e assim o dizemos por conta de uma pobreza finita de linguagem, é um “conjunto”, e aqui neste termo vai também o reconhecimento de pequenez e de finitude, é um “conjunto” mesmo de eus, eus que se somam numa unidade, numa soma que aparenta crescente e nunca regressiva. Eu + eu + eu + eu + eu + eu + eu + eu, indefinidamente eu, eu, eu, eu… – será que o eu na carne do cronista é um deles? Deixem-me assim, interrogativo, por uma força de humildade, característica da minha dinamicidade, da minha acidentalidade, da minha periferia. Mas, por certo, na senda estreita do que conheço e possa mais conhecer, pobre conhecer, só posso admitir que sempre o que Deus quer não é, ou seja, resta sempre indimensionado de eterno e de infinito, ou seja, ainda não se trata de realidade histórica e telúrica, ou seja, ainda, e tantos outros “ou sejam” ainda assim incapazes de abarcar em minha pobre mente, pobremente pobre, fazendo-me, sentindo-me doriel de dorieis, embora poucos, pois muitos são os josés e os antonios e os franciscos e os joãos e os…, e as marias, e as teresas, e as josefas, e as severinas…., todos, todos, todos, todas, todas, todas santos, santas, separados, separadas e, por santos e santas e separados e separadas, de carnes, de músculos, de nervos, de ossos, de sentidos, eternos, infinitos, com nomes inscritos no céu, edifício indestrutível e, mais do que isso, que nem construídos foram, porque o eterno e o infinito não se constroem nem se destroem, assumem o centro-estático-essencial, este que, por graça, sim, permite que o periférico-dinâmico-acidental de um doriel se transporte em central-estático-essencial, por uma vontade deste centro, obviamente. Então, neste mundo vencido, o mal ficou para trás, preso, com o rabo entre as pernas, com o perdão pela chula expressão, mas nisso não vai menosprezo, pois disso não se ocupa o que é o centro, o que é a essência e o que é o estático. Importa é que mais do que uma sensação, não seja eterno e infinito, assim como papas (verdadeiros), como swamis (verdadeiros), como imãs (verdadeiros), como rabinos (verdadeiros), em espírito, de espírito, por espírito, religados, religados, religados. Eus religados. Eus religados deles, santos e santas, separados e separadas, e também dos que, periféricos-dinâmicos-acidentais, como eles, como elas, os que nunca se rotularam de papas, de cardeais, de bispos, de pastores, de senhores e monsenhores, de swamis, de ímãs, de rabinos, de…, tantos e tantas quantos e quantas sejam os escolhidos e escolhidas dentre tantos e tantas chamados e chamadas… quem não tem olhos, veja; quem não tem ouvidos, ouça…

Adão do céu no Adão de nós

ADÃO DO CÉU NO ADÃO DE NÓS

Dizer que somos todos ladrões de Deus, por Adão  haver-se acrescentado as letras L e R – eis o sentido figurado do já figurado conjunto de árvores frutíferas com que Deus proveu o paraíso edênico onde colocara Sua criação excelente – o homem – o qual, por isso, ficou com a dívida de um dízimo a pagar, no sentido de devolver a Deus o que fora furtado, pois o fruto proibido se tornara furto, fruto como criação de Deus e furto como “arte” de satanás. Assim, a Adão lhe teriam bastado as duas mencionadas letras (L e R) para ladrão, enquanto que para fruto e furto apenas a troca de letra assina a sorte de quem com infidelidade subtrai mediante artifício de troca de posição da letra r e da letra u, isto como sendo próprio ao enganador, satanás. Dizer assim – começávamos dizendo – mostra Deus como o exigente cobrador do dízimo, mas se olvida o Deus da misericórdia, que se sacrifica e dá salvação pelo filho, de graça. Então, olvidar dívida é demonstrar e reconhecer o Adão do céu vencedor do mundo no lugar do Adão que, ladrão, continua, expulso, vivendo no imenso derredor do jardim primevo, que é este mundo. Ah, o Adão do céu, vai, de graça, nos salvando de furto de fruto do Eu-divino que reside no ladrão Adão de todos os tempos!